Outeiro Seco - AQI...

Tempo Outeiro Seco
Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – Filipe da Ascensão (Ranheta)"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

  

Na continuação da nossa divulgação dos combatentes da Grande Guerra, referentes à aldeia de Outeiro Seco, hoje será a vez do soldado Filipe da Ascensão, mais conhecido na aldeia pela alcunha: “O Ranheta”.

 

_D804581.JPG

 

Talvez o amigo leitor não saiba que o Filipe da Ascensão não era filho natural de Outeiro Seco, mas sim outeiro secano por adoção. Afim de evitarmos maus juízos, amigo leitor, vamos verificar o seu assento de batismo que nos diz o seguinte:

Assento nº. 41 do Livro de batismos da Freguesia de Santo Estevão e referente ao ano de 1893.

Aos quinze dias do mês de Outubro do ano de mil oitocentos e noventa e três, na capela de Nossa Senhora das Neves do lugar de Vila Verde desta freguesia de Santo Estevão, concelho de Chaves, batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino, a quem dei o nome de Filipe

Que nasceu às nove horas da noite, filho legítimo de Bernardino da Ascensão natural do lugar de Dadim, freguesia de São João da Castanheira, e de Maria Rodrigues natural de Vila Verde, jornaleiros, neto paterno de António Carneiro e de Alexandrina Rosa, e materno de Jerónimo Rodrigues e Joana Maria, foram seus padrinhos José Teixeira, Soldado da Guarda Fiscal, e sua mulher Maria Vieira da Silva.

O abade Francisco Pires de Morais.

 

Desde muito jovem, o Filipe veio para Outeiro Seco trabalhar para a família Montalvão como jornaleiro. Seria em Outeiro Seco que mais tarde iria iniciar a sua vida. Cedo começa o namorico com a Júlia Correia Branco, esta natural de São Tiago de Vilarelho da Raia, era serviçal (criada) da família Montalvão.

 

Filipe Ascensão - Ranheta - Filme Montalvões.jpg

 Fotograma de filme propriedade da família Montalvão Cunha gentilmente cedido por Luís Montalvão

 

O Filipe iniciou o cumprimento dos seus deveres militares no ano de 1916 e será nesse mesmo ano, no dia 28 de Dezembro, que casa com Júlia Branco, mas a jovem Júlia só tinha 17 anos de idade, pelo que foi necessário o consentimento dos pais da noiva.

 

Realizado o casamento, o casal passa a viver perto do Solar dos Montalvões, numa pequena casa na Rua de Santa Rita ao lado da casa da senhora Delfina, também esta natural de Vilarelho da Raia.

 

PDVD_000 cópia3.jpg

 Fotograma de filme propriedade da família Montalvão Cunha gentilmente cedido por Luís Montalvão

 

O Filipe continua no cumprimento dos seus deveres militares. Podemos dizer que ainda estava casado de fresco e era mobilizado para combater em França. Assim o Filipe (Ranheta), no dia 23 de Maio de 1917, embarcava no cais de Alcântara, com destino a Brest, e daí para a frente de combate. Deixava para trás a sua jovem esposa com a idade de 18 anos, recém-casada e grávida de dois meses.

 

As notícias, quer de uma parte quer de outra, são muito poucas. O tempo passa não há notícias do marido, Filipe também não recebe notícias da sua Júlia. São decorridos 6 meses da partida do marido. Estávamos no mês de Novembro, Júlia completava o tempo da sua gravidez e no dia 17 de Novembro dava à luz um jovem do sexo masculino a quem seria dado o nome de Filipe.

 

O marido lá longe nada sabia, as notícias eram muito morosas. Seria este recém-nascido a felicidade daquela jovem mãe, mas talvez por azar do destino, essa felicidade viria a transformar-se em tristeza. No dia 27 de Novembro de 1917, pela 1 hora da tarde, o Filipe (filho) acabaria por falecer com apenas 10 dias de vida e toda a felicidade daquela jovem mãe desaparece como uma golfada de fumo.

 

O marido na frente de combate desconhece a sorte do seu filho e da sua esposa. A mágoa toma conta daquela jovem mãe. Foi o único filho do casal, ambos faleceram sem deixar descendentes.

 

Vamos agora, meus amigos, falar do combatente Filipe da Ascensão (Ranheta). Na nossa investigação verificámos o Boletim do CEP, assim como várias listagens, onde apurámos que se encontrava na freguesia de Santo Estevão.

 

No seu Boletim do CEP consta o seguinte:

Era soldado do Regimento de Infantaria 19, pertencia à 1ª. Companhia do 2º. Batalhão e ao 2ª. Depósito de Infantaria sendo o soldado nº 542, correspondendo-lhe a placa identificativa nº 64248, era casado com Júlia Correia Branco, e filho de Bernardino da Ascensão e de Maria Rodrigues, natural de Vila Verde de Santo Estevão, embarcou no cais de Alcântara, no dia 23 de Maio de 1917 com destino a Brest. Foi colocado na frente de combate no 4º Batalhão de Morteiros Ligeiros, em 24 de Julho de 1917.

Depois foi colocado no 1º Batalhão de Metralhadoras Ligeiras em 6 de Novembro de 1917.

Toma parte na célebre batalha de La Lys. Pela ordem de Serviço 13.1 afim de ser aumentado ao efetivo do B. em 6/11/1918.

Foi repatriado com a unidade no navio “Ovita” em 13 de Fevereiro de 1919. Desembarcou em Lisboa no cais de Alcântara em 16 de Fevereiro de 1919.

Regressou a Outeiro Seco são e salvo com pequenas mazelas que o iriam acompanhar durante toda a vida.

 

_D805769ac-Blogue.jpg

 

Foi na sua aldeia adotiva que o Filipe iniciou a sua nova vida, juntamente com a sua esposa, dedicando-se à agricultura e a umas jornas que iam aparecendo.

 

Quem conheceu o Filipe Ranheta só pode ter boas recordações, era uma pessoa pândega, gostava da brincadeira. Eu fui um dos afortunados, pois ainda o conheci. Foi o único combatente que conheci. Dele recordo o cantar dos Reis à sua porta. Por altura das matanças mandavam-me a casa dele com um saco. Quando chegava pedia-lhe as pedras para lavar o porco. Uns meses antes do carnaval dizia à garotada da aldeia “Tenho lá o arranca-pinheiros”, “Tenho lá o salta-paredes”, “Tenho lá o arrasa-montanhas”, e toda a garotada tinha medo. Dizia que já tinham comido “X” quilos de batatas e carne e lá ficávamos à espera do dia de Carnaval para ver.

 

Toda esta vida de martírio e nada fácil para o Filipe Ranheta, acabaria no dia 4 de Agosto de 1970. Terminava assim a saga de mais um combatente da Grande Guerra.

 

João Jacinto

 

 

Consulta:

Arquivo Militar

Listagens de genealogia

Livro Batismos de Santo Estevão

Livros de Outeiro Seco

Informações orais

 

Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

Contributos2014.jpg

 

Publicado por Humberto Ferreira às 00:05

Link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos

Humberto Ferreira . Berto Alferes

Pesquisar neste blog

 

Dezembro 2023

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

Votos de um Feliz Natal e...

Festa de São Miguel 2023 ...

Festa de Nossa Senhora da...

Pôr-do-sol no Outeiro 202...

Apresentação do Livro “Di...

Boa Páscoa!

Padre Fontes - 83º Aniver...

Águas Frias - Nevada de 2...

Águas Frias - Nevada de 2...

Águas Frias - Nevada de 2...

Águas Frias - Nevada de 2...

Águas Frias - Nevada de 2...

Padre Fontes | Diários (1...

Votos de um Feliz Natal e...

Festa de São Miguel 2022 ...

Festa de Nossa Senhora da...

Festa do Reco 2022 - Oute...

Boa Páscoa!

Auto da Paixão de Cristo ...

Padre Fontes - Apresentaç...

Outeiro Seco - Resultados...

Tanxugueiras - Terra

Feliz Natal e Bom Ano Nov...

INVEST2030 - até 22 de Fe...

Vídeo: Feira dos Santos d...

Vídeo: Festa de São Migue...

Outeiro Seco - Resultados...

14 anos de Valorização da...

Vídeo: Festa de Nossa da ...

Centenário da chegada do ...

Arquivos

Dezembro 2023

Setembro 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Dezembro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Abril 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Setembro 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

tags

agricultura

águas de chaves

águas frias

aldeias

ama

ambiente

amiar

antigamente

antónio lourenço fontes

ao acaso

aqi

aquanatur

aquavalor

arte digital

auto da paixão

barroso

berto alferes

boticas

camera collector

casa de cultura

castelo de monforte de rio livre

cerdeira

chaves

chaves em festa

chegada do comboio a chaves

cidade de chaves

cogumelos

coleccionismo

comboios

contributos

desporto

dinis ponteira

esgotos

estrada nacional 2

exposições

fauna

faustino

feira do gado

feira dos santos

fernando ribeiro

festa comunitária

festa do reco

festa senhora da azinheira

flora

fotografia

fotografia antiga

friães

galiza

humberto ferreira

j.b.césar

joão jacinto

joão madureira

lamartinedias

laura freire

legislação

lixo

lumbudus

máquinas fotográficas antigas

montalegre

museu de fotografia

n2

natureza

notícias

o poema infinito

old cameras

olhares

orçamento participativo

orçamento participativo 2015

outeiro seco

padre fontes

páscoa

património

políticos

poluição

poluição em chaves

portugal

rapa das bestas

recortes

religião

rio tâmega

romeiro de alcácer

rota termal e da água

santarém

são sebastião

sarraquinhos

sr. luís fernandes

sr.joãojacinto

suas cabras

telhado

termas de chaves

tiago ferreira

tradições

trás-os-montes

vamos até

viagens no tempo

vidago

vidago palace hotel

vintage cameras

visit chaves

vítor afonso

todas as tags

Blogues Amigos




Creative Commons License

AVISO:
A cópia ou utilização das fotografias e textos aqui publicados são expressamente proibidas, independentemente do fim a que se destinam.
Berto Alferes

Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License

Lumbudus

Tradições

Património

Coleccionismo

Fauna

Flora

Aviso




Creative Commons License

AVISO:
A cópia ou utilização das fotografias e textos aqui publicados são expressamente proibidas, independentemente do fim a que se destinam.
Berto Alferes

Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.

subscrever feeds