Este texto foi-nos enviado pela Regina Celia Gonçalves, a viver no Brasil, mas descendente de um Outeiro Secano, com o intuito de receber alguma informação que procura sobre os seus antepassados. Toda a ajuda é bem vinda.
A volta ao ninho
A longa jornada da Europa ao Brasil chegava ao fim com a entrada do navio a um porto do país. Os navios ficavam atracados no Rio de Janeiro ou em Santos, onde passavam por uma inspeção sanitária antes que os seus passageiros pudessem seguir para o local de acolhimento. Muitos desses navios não transportavam exclusivamente passageiros, mas também mercadorias, como foi o caso da Paquete Deseado. Construído em 1911 pelo famoso estaleiro Harland & Wolf, o Deseado possuía acomodações para 944 passageiros, na sua grande maioria imigrantes. Em 19 de janeiro de 1917, no auge da Primeira Guerra Mundial, foi perseguido e atacado à superfície por quatro “u-boots” (submarinos alemães) na baia de Biscaia – situada entre a costa norte da Espanha e a costa sudoeste da França –, sobrevivendo devido à forte agitação marítima e escapando de uma grande tragédia. Com o fim da guerra continuou transportando milhares de europeus ao Brasil.
É nesse ponto que minha história começa. Meu avô José Gonçalves veio para o Brasil em uma dessas viagens do Deseado que partiu provavelmente da Cidade do Porto e chegou ao Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1920. Com apenas 13 anos, deixando seus pais Manuel Gonçalves e Maria dos Anjos Torres e sua irmã Glória Gonçalves em Outeiro Seco, Chaves, desembarcou no Brasil. Proveniente de uma família de camponeses que extraía sua parca renda da criação de ovelhas, veio como clandestino nos porões desse navio, como muitos jovens sem perspectiva em seu lugar natal, preferindo ariscar uma nova vida em um novo continente Não tenho conhecimento para onde ele se dirigiu ao chegar ao Rio de Janeiro, muitos dos imigrantes eram levados à Hospedaria da Ilha das Flores onde teriam comida e um quarto por alguns dias até conseguirem um emprego. Outra alternativa era o deslocamento para as cidades do entorno da ilha – São Gonçalo e Niterói - ou mesmo a capital do país, em busca de trabalho.
José Gonçalves com 21 e 28 anos
No ano de 1932 meu avô com 25 anos se encontrava em Uberaba (MG) morava na casa de Manoel Chaves e trabalhava como ajudante geral. Casou com minha avó em 1933 em Belo Horizonte (MG), onde teve seus dois primeiros filhos, sendo meu pai, nascido em 1935, o mais velho de todos. Por volta de 1937 mudou-se para São Paulo na região de Santana, onde conseguiu comprar uma casa com bastante terreno e montou uma leiteria com as economias de um duro trabalho ao longo de alguns anos. Meu pai se lembra vagamente disso tudo, pois era criança : as coisas pareciam ir bem, mas como à vida é cheia de reviravoltas, perdeu tudo ou quase tudo. Para seus filhos que foram 8 ao todo, deixou apenas uma pequena casa em outro bairro bem afastado do centro. A esperança de riqueza e fortuna não foi real para a grande maioria dos imigrantes. Nunca voltou a Portugal, nem viu os seus pais e sua irmã. Essa história me emociona profundamente. Minha filha é a primeira de todas essas crias que teve a oportunidade de voltar e conhecer a beleza de Portugal, mas o caso do meu avô mostra que nem sempre existe a volta ao ninho.
Hoje, nesses últimos quatro anos pesquisando a minha ascendência, encontrei várias certidões de meus bisavôs e tia-avó, mas infelizmente a certidão do meu avô que é o mais me interessa, não encontro. Está difícil. Não existe registro em Outeiro Seco ou em outras freguesias. Peço a quem puder e quiser me ajudar nessa busca que me escreva. Mas, espero que em breve possa ir à Outeiro Seco, retornar ao ninho, respirar essa atmosfera de nostalgia, visitar o tumulo de meus antepassados que nunca conheci.
Regina Celia Gonçalves
Fontes:
José Fernandes Amaro Júnior; Lloyd’s Register of Shipping; Royal Mail Lines.
Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores
Arquivo Nacional – RJ e Fundação Biblioteca Nacional
www.novomilenio.inf.br
castelo de monforte de rio livre
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