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Segunda-feira, 9 de Abril de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – José Francisco Gonçalves Sevivas"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

 

 

Os militares de Outeiro Seco que estiveram na Grande Guerra de 1914-1918 foram muito esquecidos.

 

Agora que se comemoram os 100 anos desse acontecimento, foi minha vontade fazer com que saíssem do anonimato, inclusive da própria família, para lhes dar o lugar merecido na história local.

 

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Alguns deles estiveram em África e muitos, em França. Hoje em dia, na aldeia, praticamente já não se fala em gaseados. Dos que morreram, por lá ficaram sepultados. Hoje vamos falar de um outeiro secano que para muitos foi o Major Sevivas e vai continuar na história local de Outeiro Seco a ser o Major Sevivas, embora tenha atingido uma alta patente da hierarquia militar, a de Tenente-coronel.

 

Mas amigo leitor, não quero ser maçador com tudo isto, mas permita-me que me debruce um pouco sobre os antepassados do nosso combatente e só depois nos iremos ocupar do nosso Major Sevivas, para que não restem dúvidas.

 

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Fonte: Memórias da Guarda Fiscal - Posto de Soutelinho da Raia

 

Seu pai, João Gonçalves Sevivas, nasceu no dia 28 de Outubro do ano de 1864, era filho de António Sevivas e de Ana Gonçalves Agrela, de Outeiro Seco. Já com idade adulta passou a ser soldado da Guarda Fiscal, sendo destacado para o posto de Soutelinho da Raia e, ora para o posto de Vilarelho da Raia, ora para o de Travancas.

 

Através do assento do livro de casamentos de Vilarelho da Raia de 1889, vamos descobrir o assento nº.8 e que nos diz o seguinte:

Que no dia três do mês de Agosto do ano de mil oitocentos e oitenta e nove, João Gonçalves Sevivas, batizado na freguesia de Outeiro Seco, Cabo da Guarda Fiscal estacionado no Posto de Vilarelho da Raia, filho de António Gonçalves Sevivas e de Ana Gonçalves Sevivas, com a idade de vinte e cinco anos. Contraia matrimónio com Sabina Pires de dezanove anos de idade e filha de Francisco Pires e de Ana Daira de Vilarelho da Raia”.

 

Era muito comum na aldeia ouvir-se da parte das pessoas que a vida de um Guarda Fiscal era como a dos ciganos, andavam sempre com a trouxa as costas. Era o que acontecia a este outeiro secano, tão depressa estava num local como noutro.

 

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Fonte: Memórias da Guarda Fiscal - Posto de Vilarelho da Raia

 

Deste casamento, viram a luz do dia sete filhos, sendo dois rapazes e cinco raparigas. O primeiro filho seria o José Francisco, depois o João, a seguir a Libânia, a Olinda, a Ana, a São, e por último a Arminda.

 

O José Francisco acabaria por seguir a carreira militar. O João ainda muito jovem abalou para os Estados Unidos da América, constituiu família e por lá ficou. Nunca mais cá veio. A Libânia acabaria por ser a única filha a casar, com o Tenente de Infantaria Luiz Faria Barroso Mariz, tendo este ainda atingido a patente de Capitão, foi Comandante da 4º. Companhia da Guarda Fiscal de Chaves nos anos 1934-1949. Não tiveram descendentes. A Olinda, a Ana e Arminda dedicaram-se sempre as tarefas agrícolas da casa. A Ana viria a falecer no ano de 1970, sendo a Arminda a última a falecer. Quanto à São, esta ocupava-se das lides domésticas da casa, era de todas a mais devota.

 

Seu pai João Gonçalves Sevivas, no ano de 1906, era promovido ao posto de Sargento da Guarda Fiscal. Também aquando das Incursões Monárquicas de Paiva Couceiro em 1912, recebeu do Governo da República um louvor, pelos bons serviços prestados à jovem República Portuguesa.

 

Depois desta breve resenha sobre a família Sevivas, passamos à figura principal da nossa história, ou seja, ao José Francisco Gonçalves Sevivas, o nosso Major Sevivas.

 

Tinham passado três anos desde que o casal Sevivas tinha contraído matrimónio. O cabo João Gonçalves Sevivas acabava de ser destacado para o comando do posto de Soutelinho da Raia, no início do ano de 1892 e será nesta aldeia que nasce o primeiro filho do casal a quem seria dado o nome de José Francisco.

 

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 Fonte: Liga dos Combatentes

 

Fomos investigar os livros de batismo da freguesia de Soutelinho da Raia, referente ao ano de 1892. Aí encontrámos o Assento nº. 11 que nos diz o seguinte:

Assento nº. 11 do ano de 1892. Aos quatorze dias do mês de Agosto do ano de mil oitocentos e noventa e dois, nesta igreja paroquial de Santo António de Soutelinho da Raia, do concelho de Chaves, arquidiocese de Braga, batizei solenemente uma creança do sexo masculino, que nasceu nesta freguesia, pelas cinco horas da manhã do dia nove do mês de Agosto, de mil oitocentos e noventa e dous, e ao qual dei o nome de José Francisco, filho legítimo de João Gonçalves Sevivas natural de Outeiro Seco e de Savina Pires natural de São Tiago de Vilarelho da Raia, neto paterno de António Gonçalves Sevivas, e de Ana Gonçalves Agrela, e materno de Francisco Pires e de Ana Pires Daira naturais de Vilarelho da Raia. Foram seus padrinhos o Reverendo Joaquim Alves Crespo, desta freguesia e José Branco Sanches natural de Vilarelho da Raia, que sei serem os próprios.

O Abade Álvaro Pais de Araújo.

 

O José Francisco, como referimos, seria o primeiro filho do casal, toda a sua juventude seria repartida entre Soutelinho da Raia, Outeiro Seco e Vilarelho da Raia. Ora num local ora noutro, os anos iam passando e o jovem José Francisco ia crescendo. Terminados os estudos primários, o José Francisco é enviado para a cidade de Braga para aí continuar os seus estudos eclesiásticos, com a condição de vir a ser ordenado padre, sendo esta a vontade de seus pais.

 

Mas nessa altura viviam-se tempos de incerteza no país. O José Francisco, já com os seus 18 anos, não era alheio a essas mudanças. Assiste à implantação da República em 1910. Passados dois anos, em 1912, assiste à revolução de Couceiro. Já com maioridade aproxima-se o cumprimento dos deveres militares para com a Pátria. Será no decorrer do ano de 1912 que se apresenta à inspeção militar, ficando apto para todo o serviço. O jovem desiste da sua carreira sacerdotal e abraça a carreira militar, talvez influenciado pela carreira militar de seu pai. O jovem é indicado para servir a arma de infantaria, seguindo para o Regimento de Infantaria 13 de Vila Real. Nessa altura ainda não havia guerra na Europa, nem nada que indicasse que pudesse acontecer. Continua a sua preparação militar em Vila Real, mas já em pleno ano de 1914, os ventos que sopram do norte da Europa anunciam a guerra. Finda a sua preparação militar em Vila Real com o posto de Alferes Miliciano e como comandante de pelotão oficial de metralhadoras ligeiras do Regimento de Infantaria 13. Surgem os primeiros focos de invasão das Colónias e em 3 de Fevereiro de 1915, embarca com destino ao sul de Angola acompanhado de um batalhão de infantaria 13, regressando com as primeiras forças militares, depois de terminada campanha em 15 de Outubro de 1915.

 

Ainda não se tinha completado um ano do seu regresso de África, já estava a ser mobilizado para a guerra de França. A 22 de Abri de 1917 embarcava com destino a Brest, para depois ser deslocado para a frente de combate, como podemos verificar no seu Boletim do CEP.

 

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Assinatura de José Francisco Gonçalves Sevivas - Boletim do CEP

 

José Francisco com a patente de Alferes Miliciano do 2º. Batalhão de Infantaria 13, da 2ª. Divisão e 5ª. Brigada de Infantaria, era filho de João Gonçalves Sevivas e de Savina Pires. Diz-nos ainda que era natural de Soutelinho da Raia e que o parente mais próximo era o seu pai, residente em Soutelinho da Raia do concelho de Chaves. Já na frente, José Francisco vai tomar parte na célebre batalha de La Lys do dia 9 de Abril de 1918. Consta ainda no seu boletim “Licença de Campanha por 20 dias desde 19 de Outubro de 1917 cessando a 1 de Novembro. Passou a desempenhar as funções de Oficial de Granadeiros acumulando com as de Oficial de Metralhadoras Ligeiras desde 20 de Fevereiro de 1918. Louvado porque no dia 9 de Abril de 1918 bateu-se em La Couture com muita coragem e sangue frio, decisão e competência, fazendo ele próprio fogo de metralhadora e só retirando quando se lhe esgotaram os meios de resistência e através de dificuldades. O. do Q. G C.nº144 de 29 de Maio de 1918. Licença da Junta por 90 dias em sessão de 3 de Julho.

 

Mas será nesta batalha que se dá uma das maiores polémicas do CEP. É neste dia 9 de Abril de 1918, que pelas 4:15 da madrugada, dá início o ataque Alemão e será no decorrer desta batalha que o verniz estala entre o Capitão da 1ª. Companhia, Bento Roma e o Capitão da 2ª. Companhia, David Magno e são várias as referências feitas à pessoa do Alferes Miliciano José Francisco Gonçalves Sevivas.

 

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Les-Lobes - David Magno

 Livro da coleção particular do Sr. João Jacinto

 

David Magno no seu livro “Les-Lobes na batalha de La-Lys”, na pág. 107 diz: “O Alferes de metralhadoras José Francisco Sevivas, maneja uma junto ao 2º. Comandante interino, até que…” sem saber explicar como, se desliga de mim….” Diz este Capitão, “- mete-se por uma trincheira de comunicações e perde-se numa volta”. Também David Magno no Livro “La Couture”, perante a história, diz na pág. 44 o seguinte: “Este Alferes José Francisco Gonçalves Sevivas, abandonou autenticamente o seu posto de combate e os seus chefes diante da aproximação dos Alemães”!!!. O próprio Capitão Bento Roma 2º. Comandante Interino diz que não sabe como este Sevivas se desligou dele…. Meteu-se por uma trincheira de comunicação e perdeu-se numa volta...”. Também recentemente, numa tese doutoral apresentada no Instituto Universitário de Lisboa, da autoria de Miguel Nunes Ramalho, em 2015 diz-nos na pág. 113: “Foi nesta terra de Flandres, desde Amantieres a la Bassé, de Merveille a Béthame que as tropas portuguesas viveram e sofreram o seu grande calvário ignorando a verdadeira razão da luta para a qual foram lançados”. E serão as divergências no comando de Infantaria 13 que vão lançar a polémica onde o Alferes Sevivas, se vai ver envolvido. Continuando ainda na obra referenciada na pág. 187: “Mais polémica terá sido a referência ao Alferes Miliciano José Francisco Gonçalves Sevivas. Segundo informações o Alferes Sevivas tinha escapado do reduto onde se encontrava junto do Capitão Bento Roma, fugindo para a base do CEP, na altura em que estavam a ser atacados pelos alemães, escrevendo no seu relatório que tinha visto morrer o seu comandante e o 2º. Comandante por carga de baioneta com o inimigo. Também é enigmática a forma como o Capitão Bento Roma, descreve o desaparecimento do Miliciano Sevivas, “no meio do matraquear das metralhadoras é então que sem saber explicar, como se desliga de mim o Alferes Sevivas, mete-se por uma trincheira de comunicação e perde-se numa volta. O subalterno aproveitou uma distração de Bento Roma e cavou para a base. Apesar desta fuga para a retaguarda. O Comandante Pissara não se esqueceu do conterrâneo propondo-lhe um louvor”. Toda esta polémica não passaria de um mal-entendido. E o caso não ficará por aqui, e segue mais tarde para tribunal militar. E continuando ainda com o mesmo autor da referida tese e na pág. 232 diz-nos: “mas também não faltou o louvor ao Alferes José Francisco Gonçalves Sevivas, porque; “no dia 9 de Abril bateu-se na Couture com muita coragem sangue frio e decisão e competência”….

 

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La Couture - David Magno

  Livro da coleção particular do Sr. João Jacinto

 

Também o autor do livro “Os Portugueses na Flandres” do Tenente Coronel Fernando Freiria, na pág. 281 diz-nos “que José Francisco Gonçalves Sevivas - Alferes Miliciano porque no combate de 9/04/1918, bateu-se em La Couture com muita coragem, sangue frio, decisão e competência fazendo ele próprio fogo de metralhadora, e só se retirou quando se lhe esgotaram os meios de resistência e outras dificuldades”. Também, ainda recentemente, na pág. nº. 4 do Jornal Notícias de Vila Real, de 12/04/2018, num artigo com o título “Na Crista da Onda”, do autor Ribeiro Aires, volta novamente a tal polémica à baila. Voltando novamente ao autor da Tese de Doutoramento de Miguel Nunes Ramalho, consultando a pág. 292, ficamos a saber que o Alferes Sevivas é levado a depor em tribunal militar, tendo no seu primeiro depoimento, entrado em contradições, segundo este autor, pelo que o auditor o Coronel Augusto Maria Soares viria a solicitar nova audição do Alferes Sevivas, para apuramento da verdade. Pelo que o Alferes Sevivas, volta novamente no dia 1 de Abril de 1922 a ser notificado para nova audição, mas desta vez é ouvido no Regimento de Infantaria 19 em Chaves, só que desta vez tem por auditor o Capitão Luís Borges Júnior. No seu novo depoimento o Alferes Sevivas, declarou manter em absoluto o seu primitivo depoimento. Terminado todo este imbróglio, o Alferes Sevivas vai continuar a sua carreira, acabando por mais tarde ser condecorado com a cruz de guerra de 2ª. classe.

 

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Os Portugueses na Flandres - Fernando Freiria

  Livro da coleção particular do Sr. João Jacinto

 

Já em pleno ano de 1924, será o primeiro Presidente do Núcleo de Chaves da Liga dos Combatentes.

 

Em 28 de Maio de 1926, dava o seu apoio à revolta do General Gomes da Costa, cujo apoio lhe viria a trazer mais tarde algumas benesses. Além dos vários amigos granjeados ao longo dos tempos, um dos seus grandes amigos destaca-se o Capitão Luís Borges Júnior, (Sendo mais tarde Administrador do Concelho de Chaves e delegado da PVD (PIDE), além de outros cargos sendo muito conhecido no meio flaviense, foi apelidado de o carrasco dos refugiados espanhóis durante a guerra civil.

Outro dos seus amigos foi o Tenente Horácio de Assis Gonçalves, que era de Vinhais, e chegou a ser Chefe de gabinete de Salazar e mais tarde Governador Civil de Vila Real durante os anos de 1931 a 1939.

 

Também no Assento de batismo do Major Sevivas existe um averbamento curioso, que nos diz o seguinte: “Consta em Despacho do Meritíssimo Juiz de Direito da Comarca de Chaves, em que foi autorizado a adicionar no seu nome Gonçalves Sevivas, devendo ler-se José Francisco Gonçalves Sevivas. Registo Civil aos 3 dias do mês de Julho de 1933.

 

Em 3 de Abril de 1938 falecia em Outeiro Seco sua mãe Sabina Pires Sevivas, tendo sido sepultada no cemitério local de Outeiro Seco.

 

Também em Maio de 1938, o Jornal Local Nova Era escrevia o seguinte pela mão do seu grande amigo e diretor do referido jornal, Capitão Luís Borges Júnior, “Capitão Sevivas, em 4 do corrente assumiu as funções de Delegado do Comando Distrital da Legião Portuguesa, neste concelho, o nosso querido amigo Senhor Capitão José Francisco Gonçalves Sevivas, distinto oficial do bravo batalhão de Caçadores 3 desta cidade, oficial distintíssimo e nacionalista fervoroso !!!.”

 

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 Luís Borges Júnior

Fotografia da coleção particular do Sr. João Jacinto

 

Entre os anos 1940 a 1942 assume o lugar de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Chaves.

 

Também entre os anos de 1948 a 1951, já com a patente de Tenente Coronel é nomeado Comandante do Regimento de Caçadores 10 de Chaves, sendo nesta altura o seu impedido o conhecido Sargento Neves. Deixaria o cargo já perto do final de 1951, por motivos de saúde, retirando-se para a sua residência no Bairro do Penedo em Outeiro Seco.

 

É possível que o nome do Major Sevivas, não diga hoje nada a uma grande parte dos outeiro secanos, sobretudo à geração nascida no período posterior ao 25 de Abril. Era tido por muitos outeiro secanos como um salazarista convicto. Outros relevam a sua pessoa e consequentemente enaltecem as qualidades morais de homem íntegro, honesto, eivado de um profundo humanismo.

 

Sendo um homem de pouco convívio com os seus conterrâneos, era um caçador profissional na caça à perdiz nas horas vagas, conjuntamente com o seu cão perdigueiro de nome Farruco. Muito dificilmente utilizava o transporte que o exército lhe punha à disposição, debaixo de chuva e vento optava por fazer o percurso a pé, utilizando os caminhos secundários, evitando o percurso pelo centro da aldeia.

 

Já desligado do serviço militar, passava os dias na varanda da sua casa a ler os jornais. Foi também ele o verdadeiro impulsionador da descoberta dos autores do assassinato do António Augusto (Celeirós).

 

Também nos contaram umas histórias onde intervém o Major Sevivas. Uma tem a ver com um grupo de jovens de Outeiro Seco. Estava-se em pleno verão. À noite os jovens da aldeia concentravam-se todos no Largo do Tanque. Aí foi feita uma aposta que tinha por finalidade entrar no quintal do Major e trazer uma melancia que estava nas escadas da varanda, sem o Major dar conta. O jovem muito sorrateiro pula o muro do Quintal, já nas escadas pega na melancia, ao mesmo tempo que pega na melancia, ecoa no silêncio da noite um tiro. Nesse momento, o Major que se encontrava ao fresco na varanda diz para o jovem, “que nunca mais tivesse aquele atrevimento porque lhe podia sair caro?”.

 

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 Foto de Fernando Ribeiro - Blogue Chaves

 

Outra delas tem a ver com o moleiro. Havia um indivíduo que todos os dias percorria a aldeia com 3 jumentos à procura de centeio para o moinho. Era empregado do Francisco Moleiro, o seu nome era Eduardo e era de Calvão, mas era conhecido na aldeia pelo “Beiças”. Estava-se no mês de outubro, caia uma chuva miudinha. O moleiro ao passar na ponte, ao lado da casa do Major, viu um homem no Quintal junto a umas couves galegas e muito depressa o moleiro diz: “Oh tio home das couves, quer mandar o pão para o moinho?”. O Major não lhe respondeu embora o moleiro barafustasse. Alguém viu a cena, chamou pelo moleiro e disse-lhe que era o Sr. Major Sevivas e tinha de ter mais respeito. A resmungar, o moleiro lá seguiu o caminho com destino ao moinho.

 

Talvez muito mais aqui poderíamos contar sobre o Major Sevivas, mas não é minha vontade ser maçador para com o amigo leitor.

 

Era dia 11 de Novembro do ano de 1957, dia de São Martinho, falecia na sua casa de Outeiro Seco o Tenente Coronel José Francisco Gonçalves Sevivas, mas para os outeiro secanos foi sempre o Major Sevivas, e ainda é.

 

E assim damos por concluído o nosso contributo, relativo aos combatentes da 1ª. Grande Guerra Mundial, pertencentes à aldeia de Outeiro Seco. Foi também nossa intenção os trazer ao conhecimento de todos os outeiro secanos, contribuir para o registo deles na história local da aldeia, prestando-lhe ao mesmo tempo uma singela homenagem hoje, em que se comemoram os 100 anos da trágica batalha de La Lys.

 

João Jacinto

  

Consulta:

Arquivo Militar

Blog Genealogia

Arquivo Distrital Vila Real

Livro Les-Lobes de David Magno

Livro La Couture de David Magno

Livro Os Portugueses na Flandres de Fernando Freiria (Ten. Coronel)

Tese de Doutoramento de Miguel Nunes Ramalho

Revista Aquae Flaviae nº 50

Várias pessoas da aldeia

 

Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

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Agradecimento:

Aproveito aqui também para agradecer a colaboração do Humberto Ferreira, pela paciência que teve para comigo e pela disponibilização do seu Blog, pois só assim foi possível levar tudo isto ao conhecimento dos outeiro secanos. Aos meus pais e aos meus avós, pelas histórias que me contavam nas longas noites de inverno à lareira, à luz da candeia. Às dezenas de outeiro secanos, muitos deles já falecidos, que me deram maravilhosas informações. Para todos o meu bem-haja. Viva Outeiro Seco!

 

João Jacinto

  

Publicado por Humberto Ferreira às 00:05

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Quarta-feira, 28 de Março de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – Joaquim Estorga Salgado"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

 

Em todas as aldeias existem personagens tratadas com deferência, sem muitas das vezes terem aparentemente nada que os destaque dos restantes habitantes, enquanto outros deveriam permanecer na memória coletiva, só restando deles o nome ou talvez uma simples fotografia, já agastada pelo tempo.

 

Quando procuramos saber quais os outeiro secanos que foram mobilizados para a 1ª. Guerra Mundial de 1914-1918, fomos confrontados que no espaço de duas décadas, nas gerações mais idosas, esses acontecimentos tinham praticamente caído no esquecimento.

 

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Pelo que soubemos é que essas ocorrências deixaram traumatismos, e marcas que muitas das vezes não queriam ser relembradas e que foram passadas em terras bem distantes, e que após o seu regresso, e a dureza dos tempos que corriam, e uma vida intensa relegaram esses acontecimentos para segundo plano, ou passaram para o esquecimento.

  

Foi com grande surpresa quando procedíamos à nossa investigação sobre os combatentes de Outeiro Seco, sendo eles os seguintes; “ Manuel dos Santos, José Figueiras, Francisco Morgado, Filipe Ranheta (este natural de V. Verde Raia), Sargento José Francisco Gonçalves Sevivas, Abel Agrela, 1º. Cabo Joaquim Estorga Salgado, Albino de Carvalho, soldado nº 929, filho de João Carvalho e Maria Silvana, único outeiro secano falecido em terras de França, faleceu em 06/03/1918 de tuberculose pulmonar, pertencia à 1ª. Companhia do Regimento de Infantaria 19. Mas será apenas sobre o combatente, Joaquim Estorga Salgado que aqui vamos escrever.

 

O Joaquim nasceu em Outeiro Seco a 03/08/1893, filho de António Estorga Salgado e de Maria Júlia Alves ou (Portela) era o 2º. Filho do casal de um total de 8 irmãos.

 

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Fotografia gentilmente cedida pela Ana Maria Salgado

 

O Joaquim percorreu as ruas da maravilhosa aldeia de Outeiro Seco, durante a sua mocidade, aqui conviveu com outros jovens, foi nesta aldeia que aprendeu as primeiras letras.

 

Já com os seus 19 anitos viu na madrugada do 08/07/1912, passar as tropas de Couceiro.

 

Quis o destino que logo no ano seguinte (1913), o Joaquim assentasse praça no Regimento de Infantaria 19. Faz a sua recruta no R.I. 19, sendo promovido no final da recruta a cabo, talvez esta promoção ou a falta de perspetivas levem Joaquim, a seguir a vida militar.

 

Já em pleno ano de 1914, as coisas pela Europa não estão famosas, paira no ar o som dos tambores de Guerra.

 

Chegado o mês de Janeiro de 1915, logo no início o Regimento de Infantaria 19, de Chaves, no seu 3º. Batalhão, é recebida a ordem de mobilização com destino a Africa, pois as colónias eram alvo de investida por parte dos Alemães.

A 17 de Janeiro de 1915, procede-se ao sorteio das praças das classes de 1912 e 1913, do 1º. e 2º. Batalhão de Infantaria 19, e que deveriam completar o efetivo a mobilizar.

 

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Livro da coleção particular do Sr. João Jacinto

 

A 28 de Janeiro, seguiu para Lisboa o 1º. Contingente de soldados do R.I. 19, sendo fixada a partida dos restantes soldados o dia 31 de Janeiro de 1915.

 

Às 13 horas do dia 31/01/1915, após uma breve alocução, pelo Coronel Augusto César Ribeiro de Carvalho, comandante do Regimento, toda a força militar saiu a caminho de Vidago. Nesse mesmo dia parte o comboio com destino à Régua, onde seria feito o transbordo com destino ao Porto.

 

Às primeiras horas do dia 1 de Fevereiro, chegavam ao Porto, feito novo transbordo para o comboio que os levaria a Lisboa (Santa Apolónia), sendo logo feito o desembarque, seguem para o quartel da Cova da Moura, à espera da viagem marítima.

 

Às 12 horas do dia 3 de Fevereiro, todo o pessoal e material, já se encontra no paquete Portugal, da parte da tarde larga âncora com destino à Madeira, fazendo ai escala, para logo no dia seguinte seguir novamente viagem com destino a Angola.

 

 

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 Livro da coleção particular do Sr. João Jacinto

 

Já ao amanhecer do dia 19 de Fevereiro, se avistava a baia de Luanda permanecendo ai algumas horas, para logo iniciar viagem com destino ao porto de Moçâmedes, onde chegou às 7 horas do dia 23 de Fevereiro. Nesse mesmo dia desembarca todo o Batalhão, dirigindo-se de imediato para o acampamento, no lugar das Hortas.

 

Em 20 de Março aí permanecem no acampamento, durante a sua permanência em Moçâmedes, onde prestam vários serviços, o Batalhão procedeu a várias escoltas de comboios, tendo essas operações sido confiadas aos 1º. Cabos, e que a seguir são mencionados, e os quais cumpriram essa missão com a maior lealdade e patriotismo:

1º. Cabo Manuel Monteiro, José Gomes, Ildefonso Valério Ferreira Pinto, José do Nascimento, Cassiano José Mendes; Cesar Augusto Mirandês, Guilherme Ribeiro, Manuel Joaquim, João Maria Teixeira, Domingos Alves Mestre, Eduardo Leitão dos Santos, Artur Elias Sousa, Henrique Pascoal, Algemino Duarte, José Lopes Diogo, Francisco Augusto de Sousa, e JOAQUIM ESTORGA SALGADO.

 

A 2 de Julho o Batalhão deixa Moçâmedes. Já na noite de 3 de Julho chega a Quilemba, executando na manhã do dia 4 marcha ate Lubango, onde ficou alojado.

 

 

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Livro da coleção particular do Sr. João Jacinto

 

A 16 de Julho aí é instalado o quartel-general, serão os contingentes da 11ª. Companhia e 12ª. que vão fazer parte da conquista do Cuahama, sendo assim dado começo ao 2º. período das operações além Cunene.

 

No dia 24 de Julho às 7 horas a Companhia 11ª e 12ª partem para Humbe, onde chegaria a 9 de Agosto com 302 soldados e os seguintes oficiais, sargentos e 1º. Cabos.

12ª. Companhia, Capitão António Rodrigues da C. Azevedo, Alferes Frederico Tamagnini de S. Barbosa, João Almeida Serra, Henrique Perestrelo da Silva, 1º. Sargento Rafael Gama, 2º. Sargento Amílcar Afonso P. Camoezas, António Mendes Cardoso, Ermogénio de Almeida, Júlio António da Trindade, 1º. Cabos António dos Santos, JOAQUIM ESTORGA SALGADO, Guilhermino Ribeiro, José do Nascimento, João Eduardo Coelho, José Joaquim Dias Pereira, Henrique Pascoal Artur Rodrigues, António Rodrigues e Firmino Morais.

 

A 20 de Agosto toda a 12ª. Companhia passa a fazer parte da coluna do Cuamato, marchando para o Vau de Chimbua. Incorporados no destacamento do Cuamato, tendo tomado parte no combate da #Chana da Mula# em 24 de Agosto. Vindo depois a ser incorporados no destacamento de Negiva. Sendo destacados no posto de Oxinde desde 4 de Setembro. Sendo as forças de Infantaria 19 incorporadas nesse destacamento.

 

Já quase a findar o ano de 1915, e no dia 13 de Dezembro, o 3º. Batalhão de Infantaria 19, marcha de Lubango a Vila Arriaga, para voltar a Moçâmedes, regressando ao continente em 11 de Março de 1916, chegando ao regimento de Infantaria de Chaves a 31 de Março 1916, tendo ficado em terras de Africa 33 bravos transmontanos.

 

O outeiro secano Joaquim regressa à sua terra natal, mas continua ao serviço do R. Infantaria 19, tinha à sua espera a família e a sua futura esposa.

 

Joaquim Estorga Salgado casa nesse mesmo ano em 07/12/1916, com Ana Chaves Barrocas, o jovem recém-casado passa pouco tempo com a sua esposa, desconhecendo o que a sorte lhe reservava.

 

Às 24 horas do dia 21 de Maio de 1917, saia de Chaves com destino a Lisboa, o 1º. Batalhão de Infantaria 19, a fim de constituir em França o 2º. Depósito de Infantaria do Corpo Expedicionário Português.

 

Nele seguia o outeiro secano Joaquim Estorga Salgado do 1º. Batalhão, 2ª. Companhia e do 2º. Depósito de Infantaria sendo o 1º. Cabo nº 380 cabendo-lhe a placa de identificação nº. 9876, embarcou com destino a Brest (França) em 23/05/1917.

 

Chegado a terras de França, a 13/06/1917, JOAQUIM ESTORGA SALGADO, é colocado no batalhão do Regimento de Infantaria 21, com vários outros bravos transmontanos. Embora dispersos pelos vários Batalhões, em terras de França, os bravos transmontanos do 19 de Infantaria, cantavam por vezes, até mesmo em plena 1ª. linha o Hino do Regimento de Infantaria 19, da autoria do Flaviense “Gastão de Sousa Dias”.

 

 

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 Livro da coleção particular do Sr. João Jacinto

 

Em pleno mês de Março de 1918, todo o sector Português, era um autentico inferno de ferro e fogo, e que viria a ter por epilogo a batalha de “La-Lys”, os valorosos transmontanos de Infantaria 19, lembrando os velhos tempos. E os grandes dias de glória, laçam-se sobre as trincheiras inimigas no subsector de “Ferme de Bois”, num importante “raid” e inutilizam a 2ª. linha alemã. Pela maneira como se portaram em tão importante ação uns foram promovidos e outros condecorados. Entre eles o outeiro secano JOAQUIM ESTORGA SALGADO.

 

Do épico “raid” de 9 de Março de 1918, cabe ainda mais glória à Infantaria 19. Nele tomaram parte com elogiosas referências, os sargentos desta unidade Albano Joaquim do Couto, JOAQUIM ESTORGA SALGADO, os quais foram assim distinguidos”.

 

 

JOAQUIM ESTORGA SALGADO

Condecora com a Cruz de Guerra de 4ª. Classe Military Medal Inglesa e louvado, pela decisão e valentia de que deu provas no comando da fracção que lhe foi confiada no “raid”, efectuado com completo êxito pela sua companhia em 9 de Março de 1918-O.E. nº. 10 (2ª. Série) de 1920”.

Lembramos ainda que o Joaquim Estorga Salgado, em 22 de Dezembro de 1917, era promovido ao posto de Sargento.

 

Em 16/03/1919, apresenta-se no Comando Militar em França, a fim de seguir para Portugal, tendo desembarcado em Lisboa no dia 3 de Abril de 1919.

 

 

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Feita a sua apresentação no R. Infantaria 19 em Chaves. Regressa à sua terra natal, para recuperar de algumas mazelas da guerra.

 

Feita essa recuperação deixa também o serviço militar, sendo a sua permanência na aldeia, muito curta. Parte à procura de uma vida melhor, conjuntamente com a sua esposa e filha mais velha, vai viver e trabalhar para Anadia. No posto Agrícola de Anadia, aí permanece alguns anos.

 

Talvez pelo ano de 1924, regressa à terra natal, passando a trabalhar na Escola Agrícola Móvel Alves Teixeira em Vidago. Vindo a falecer em 26/03/1949. Tendo deixado quatro filhos: Maria, Eugénio, Augusto, e António, também já todos falecidos.

 

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Orgulhe-se Outeiro Seco, e não esqueça, este “seu filho” que terá sido um herói que andou por terras de África, passando mais dois anos de combates contínuos na 1ª. Guerra Mundial, e de grande sofrimento, soube ultrapassar as dificuldades, atuando nos momentos de perigo de forma destemida e heroica, como lhe foi reconhecido nos louvores que recebeu.

  

   João Jacinto

 

Consulta:

Arquivo Distrital de Vila Real

Livro de Batismos de Outeiro Seco

Arquivo Militar

Informações recolhidas na aldeia

Blog Genealogia

 

Nota:

Republicação de dia 12 de Fevereiro de 2014

 

Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

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Quarta-feira, 21 de Março de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – Domingos André"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

 

Prestes a terminar o nosso contributo acerca dos combatentes da Grande Guerra da aldeia de Outeiro Seco, hoje trago-vos a história de outro combatente, deixando assim um registo para as gerações futuras e atuais, para que não esqueçam os seus antepassados, os seus heróis, que na maior das dificuldades souberam dar o seu melhor das suas vidas, honrando a sua Pátria.

 

Hoje, caros amigos, vamos falar do soldado Domingos André. Relativamente a este outeiro secano, que nos fez correr Ceca e Meca, iniciámos a nossa investigação, como é costume, pelo livro de batismos da freguesia de São Miguel de Outeiro Seco, pois foi assim que fizemos com os outros combatentes. Somos levados até ao ano de 1893. É aí que vamos encontrar o Assento nº3 e será através deste registo que a nossa investigação é levada a bom porto.

 

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Reza assim o Assento nº.3 do ano de 1893 do livro de batismos da freguesia de São Miguel de Outeiro Seco.

Assento nº3:

Aos vinte e seis dias do mês de Fevereiro do ano de mil oitocentos e noventa e três, nesta igreja paroquial de São Miguel de Outeiro Seco, batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de Domingos, que nasceu nesta freguesia as cinco horas da tarde do dia vinte e três do dito mês, filho natural de Albina André, solteira filha de Miguel André lavrador e de Maria Bicência, natural do Pereiro de Argeriz, concelho de Valpaços, neto paterno de avôs incógnitos, neto materno de Miguel André e de Maria Bicência, foram seus padrinhos Domingos Diogo e sua filha Maria maior de idade.

O Padre António Gonçalves Amaro.

 

Mas será o seu assento de batismo que nos vai dar uma grande ajuda à nossa investigação, pois houve o cuidado da parte de alguém em registar todos os averbamentos no seu assento de batismo. O amigo leitor vai poder verificar que os averbamentos do seu assento de batismo, não coincidem com o que consta registado no Boletim do CEP.

 

Domingos André, casou com 21 anos de idade, no dia 2 de Dezembro de 1914, com Secundina Rosa de 22 anos de profissão padeira, natural da freguesia de Santo Estevam de Faiões, e residente em Faiões, e filha de João Barroso e de Maria da Conceição Cruz, também padeira.

 

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Sua esposa Secundina rosa viria a falecer em 5 de Agosto de 1963, em Faiões. A nossa dúvida é onde vivia o Domingos André, em Faiões ou em Outeiro Seco? Vamos aguardar pelos restantes dados e no final verificamos.

 

Ora o Domingos André passou a sua juventude em Outeiro Seco, casou e depois teve pela frente o serviço militar, alistado no Regimento de Infantaria 19 de Chaves, sendo mobilizado para a Grande Guerra de 1914-1918.

 

Da consulta ao seu Boletim do CEP, verificamos o seguinte:

O seu nome Domingos André, pertencia ao 1º. Batalhão, da 2ª. Companhia, 2º Depósito de Infantaria, era o soldado nº. 569, sendo a sua placa de identificação nº. 63988, e diz-nos também que o seu estado civil era solteiro, era filho de Albina do André, era natural de Outeiro Seco do concelho de Chaves, e que o parente mais próximo era a sua mãe residente em Outeiro Seco - Chaves.

 

Pois amigo leitor aqui está a contradição aparece como solteiro, o parente mais próximo a sua mãe, isto no Boletim do CEP. Mas a verdade é que já era casado e o familiar mais próximo seria a sua esposa, mas isto acontece.

 

O Domingos André parte para a frente de combate em 1917, sai do cais de Alcântara em 23 de Maio de 1917, com destino a Brest. Aí chegado é colocado na Companhia de metralhadoras em 4 de Julho de 1917. Mas caros amigos será este Domingos André um herói, não se admirem com o que vamos descrever. No seu Boletim do CEP consta o seguinte: “Louvado porque estando no dia 18 do corrente de serviço nas posições contra aeroplanos, conseguiu fazer aterrar um aeroplano inimigo entre as 1ªs e 2ªs linhas alemãs sem o concurso próximo doutras armas, pelo que demonstra muita serenidade excelente pontaria solida instrução deste tão importante serviço.” (O do 5º J. M. nº67 de 20.02.1918). Licença da Companhia em 18 de Maio de 1918. Embarcou para Portugal a bordo do transporte Pedro Nunes em 18 de Maio a fim de gozar a licença da Companhia.

 

Este combatente como todos os outros, por lá passou bons e maus momentos, era a vida dura das trincheiras. Regressou são e salvo para junto da sua esposa. Viveu na aldeia de Faiões até ao dia 21 de Março de 1968, data do seu falecimento repousando os seus restos mortais na sua terra adotiva. Assim concluímos a história de mais um combatente.

  

João Jacinto

 

 Consulta:

Arquivo Distrital de Vila Real

Arquivo Militar

Informações recolhidas na aldeia

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Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

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Quarta-feira, 14 de Março de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – José Ferreira Barroca Pantaleão"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

 

Na continuação do nosso trabalho sobre os soldados da aldeia de Outeiro Seco que participaram na Grande Guerra, hoje vamos falar do soldado José Ferreira Barroca Pantaleão.

 

Como vem sendo nosso costume, iniciámos muitas das vezes a nossa investigação pelo livro de batismos da freguesia de Outeiro Seco ou seja, é o nosso ponto de partida.

 

Caro amigo leitor, desde já alertamos que no assento de batismo deste outeiro secano, não consta nenhum averbamento adicional.

 

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Consultámos o livro de batismos de São Miguel de Outeiro Seco referente ao ano de 1892. Foi aí que encontrámos o Assento nº. 17, que nos diz o seguinte:

Aos onze dias do mês de Dezembro do ano de mil oitocentos e noventa e dois, nesta igreja paroquial de São Miguel de Outeiro Seco, batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de José, que nasceu no dia quinze de Novembro do mesmo ano, filho legítimo de Francisco Ferreira e de Ana Teresa Barroca, neto paterno de José Ferreira Pantaleão e Ana Joaquina, materno de José Joaquim Ferreira e Maria Teresa Barroca, foram seus padrinhos Aníbal de Sá Tenreiro, empregado da Guarda Fiscal e sua esposa Rosária Rodrigues.

O Encomendado António Gonçalves Amaro.

 

Toda a juventude de este outeiro secano foi passada na aldeia. Atingida a idade adulta iniciava uma nova etapa na sua vida, tendo pela frente o serviço militar. Inicia a sua preparação militar no Regimento de Infantaria 19, na vila de Chaves, mas os ventos que sopravam do norte da Europa eram ventos de guerra.

 

Já com 25 anos de idade, o jovem José Ferreira Barroca Pantaleão era mobilizado para combater em França. Fomos à procura do seu boletim do CEP ao Arquivo Militar.

 

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Consultámos o seu boletim, onde verificámos o seguinte:

O José Ferreira Barroca Pantaleão era soldado do Regimento de Infantaria 19, do 1º. Batalhão, 4ª. Companhia do 2º. Depósito de Infantaria, tendo a sua placa de identificação o nº. 64361, o seu nome José Ferreira Barroca, soldado nº. 275. Também no seu boletim só la consta a sua mãe Ana Teresa Barroca, o que nos leva a deduzir que seria muito provável o seu pai ter já falecido. Embarcou no cais de Alcântara, com destino a Brest, no dia 15 de Maio de 1917. Só regressou a Lisboa no dia 10 de Abril de 1918. Já em França é colocado no Batalhão de Infantaria 15, em 15 de Junho, onde fica com o nº. 694. Baixou ao Hospital nº 1 em 30 de Outubro de 1917, é evacuado para o Hospital nº. 3 canadiano em 5 de Novembro. Teve alta em 22 tendo sido julgado incapaz de todo o serviço e de angariar os seus meios de subsistência em sessão de 2 do mesmo mês. Nada mais consta no seu boletim do CEP.

 

No entanto, segundo informações recolhidas na aldeia, de todos os soldados da aldeia vindos da guerra, o José Ferreira Barroca Pantaleão foi o que veio mais doente. A informação que nos deram foi a de que o José Ferreira Barroca Pantaleão passou a ser conhecido pela alcunha do “Marelinho”, pelo facto de andar sempre com uma cor amarelada. Diziam as pessoas que tinha sido gaseado.

 

E é tudo aquilo que conseguimos saber sobre este outeiro secano. No seu assento de batismo não consta a data do seu falecimento. É mais um combatente que trago ao conhecimento das gentes de Outeiro Seco.

 

João Jacinto

 

 

Consulta:

Arquivo Distrital de Vila Real

Livro de Batismos de Outeiro Seco

Arquivo Militar

Informações recolhidas na aldeia

Blog Genealogia

 

Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

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Terça-feira, 6 de Março de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – Albino de Carvalho"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

 

Vamos continuar com a divulgação dos combatentes da Grande Guerra. Hoje vamos trazer ao conhecimento dos outeiro secanos mais um filho da terra que esteve na guerra em França e por lá ficou sepultado.

 

Foi muito difícil saber deste nosso conterrâneo. Na aldeia pouco ou nada se falava dele, era quase de um desconhecimento total. Apenas se falava de meia dúzia de combatentes, mas alguém nos confidenciou que seriam muitos mais.

 

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Há uns bons anos atrás, em conversa com um idoso da aldeia, este confirmou-nos que deveriam ser à volta de 11 ou 12 combatentes. Também nos disse que um deles morreu em terras de França.

 

Procurámos-lhe como se chamava o combatente falecido em França. Respondeu-nos que ao certo não sabia se era Abílio ou Albino. Por isso ficámos na dúvida. Acabámos mais tarde por confirmar a veracidade das informações recebidas, pois na realidade são doze os combatentes de Outeiro Seco. Confirmámos também o verdadeiro nome do soldado que ficou sepultado em França, trata-se de Albino de Carvalho e será sobre ele que vamos falar.

 

Já que os dados fornecidos na aldeia eram relativamente muito poucos, começámos a nossa investigação mais ou menos de acordo com o ano de nascimento dos combatentes já divulgados.

 

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Monumento aos Combatentes da Grande Guerra

Fonte: Foto publicada na página www.momentosdehistoria.com de Carlos Alves Lopes

 

Fomos ao livro de Batismos da freguesia de São Miguel de Outeiro Seco, referente ao ano de 1892. Aí verificámos o seguinte:

Assento nº.11 do livro de batismos da Freguesia de São Miguel de Outeiro Seco ano de 1892.

Aos vinte e um dia do mês de Agosto do ano de mil oitocentos e noventa e dois, batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de Albino, que nasceu as 8 horas da manhã do dia 16 de Agosto, filho legítimo de João de Carvalho e de Maria Silvana, jornaleiros e moradores nesta freguesia, neto paterno de Luís Batista e de Maria de Carvalho, e materno de António Pereira e de Silvana Emília. Foi seu padrinho Domingos Diogo.

O Encomendado António Gonçalves Amaro.

 

Como todas as crianças daquele tempo, o Albino passou a sua juventude na aldeia de Outeiro Seco. Em 2 de Abril de 1911, já com 19 anos, fica órfão de pai. Passados uns tempos, o Albino vai cumprir os seus deveres militares.

 

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Publicação do Ministério da Guerra – Relação dos Militares Portugueses sepultados nos Cemitérios de Richebourg l’Avoué, Boulogne s/Mer e Antuérpia – Lisboa, 1937

 

Fomos até ao Arquivo Militar à procura de encontrar o Boletim do CEP referente ao Albino de Carvalho.

No seu Boletim verificámos que o Albino de Carvalho, fazia parte do Regimento de Infantaria nº 30 de Bragança, 1º. Batalhão ao qual correspondia a placa de identificação nº 62765, era o soldado nº. 929 da 1ª. Companhia. O seu estado civil era solteiro, filho de João de Carvalho (já falecido) e de Maria Silvana, natural de Outeiro Seco do concelho de Chaves.

Embarcou no cais de Alcântara em Lisboa, com destino a Brest, no dia 9 de Setembro de 1917 e faleceu em 6 de Março de 1918. Esteve na frente de batalha, mas já não combateu na célebre batalha de La Lys.

 

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Publicação do Ministério da Guerra – Relação dos Militares Portugueses sepultados nos Cemitérios de Richebourg l’Avoué, Boulogne s/Mer e Antuérpia – Lisboa, 1937

 

Na parte das observações do seu boletim podemos verificar o seguinte:

Que foi colocado no 1º. Batalhão de Infantaria nº. 3 em 22 de Novembro de 1917, baixa à ambulância CHº. 3 em 14 de Janeiro de 1918, evacuado para o 3 canadiano Hospital em 15 do mesmo mês. Julgado incapaz de todo o serviço e de auferir os meios de subsistência em sessão de 2 de Março. Alta em 4 de Março, seguindo no mesmo dia para Q. G. afim de ser repatriado.

Faleceu no Hospital marítimo de Brest, em 6 de Março de 1918, de tuberculose pulmonar sendo sepultado no cemitério, coval nº19 - 2ª. Fileira quadrado nº54.

 

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Publicação do Ministério da Guerra – Relação dos Militares Portugueses sepultados nos Cemitérios de Richebourg l’Avoué, Boulogne s/Mer e Antuérpia – Lisboa, 1937

 

Isto é o que consta no seu Boletim do CEP, mas no livro de soldados sepultados em França onde se encontra o registo do Albino de Carvalho com nº de Ordem 274, soldado com a placa nº 62765, pertencente a unidade territorial do CEP Inf.3, data da morte 6/03/918, talhão D, fila 17, coval 6, isto para se evitarem algumas dúvidas.

 

Passados 6 meses do seu falecimento era dado conhecimento à sua mãe. Como o amigo leitor pode verificar através da correspondência enviada para o Regedor da Freguesia de Outeiro Seco.

 

Ofº. Nº204

 

Serviço da República Portuguesa

Ao Cidadão Regedor da Freguesia

de Outeiro Seco

 

Queira dar conhecimento à família do soldado nº929,

Albino de Carvalho filho João de Carvalho e Maria

Silvana dessa freguesia, que o referido soldado faleceu

em França de tuberculose pulmonar.

 

Saúde e Fraternidade

Chaves 20 de Setembro de 1918

O Adm. do Concelho

 

 Já em Março de 1922 era enviado para o Regedor da Freguesia, um novo ofício.

 

Ofº. Nº95

 

Serviço da República Portuguesa

Ao Cidadão Regedor da Freguesia

de Outeiro Seco

                                           

Queira V. Exª. Intimar a comparecer nesta Administração

No mais curto espaço de tempo possível, Maria Silvana

Residente nessa freguesia afim de assinar o impresso para

receber a quantia de 6$08, espólio do soldado que foi da

1ª. Companhia de Infantaria 10 – Albino de Carvalho

falecido em França.

 

Saúde e Fraternidade

Chaves 21 de Março de 1922

O Adm. do Concelho

  

Caros amigos, assim, mais um combatente chega ao conhecimento dos outeiro secanos, mas por sorte ou mera coincidência, o Albino de Carvalho completa 100 anos do seu falecimento em 06/03/2018 ou seja, hoje, à data da nossa publicação. Talvez seja esta uma forma de lhe prestar uma singela homenagem.

 

João Jacinto

Consulta:

Livro batismos da freguesia de Outeiro Seco

Arquivo Militar

Livro de Sepultados em França

Expediente da Câmara Municipal de Chaves

Listagens de Genealogia

Informações orais

 

Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

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Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – Filipe da Ascensão (Ranheta)"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

  

Na continuação da nossa divulgação dos combatentes da Grande Guerra, referentes à aldeia de Outeiro Seco, hoje será a vez do soldado Filipe da Ascensão, mais conhecido na aldeia pela alcunha: “O Ranheta”.

 

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Talvez o amigo leitor não saiba que o Filipe da Ascensão não era filho natural de Outeiro Seco, mas sim outeiro secano por adoção. Afim de evitarmos maus juízos, amigo leitor, vamos verificar o seu assento de batismo que nos diz o seguinte:

Assento nº. 41 do Livro de batismos da Freguesia de Santo Estevão e referente ao ano de 1893.

Aos quinze dias do mês de Outubro do ano de mil oitocentos e noventa e três, na capela de Nossa Senhora das Neves do lugar de Vila Verde desta freguesia de Santo Estevão, concelho de Chaves, batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino, a quem dei o nome de Filipe

Que nasceu às nove horas da noite, filho legítimo de Bernardino da Ascensão natural do lugar de Dadim, freguesia de São João da Castanheira, e de Maria Rodrigues natural de Vila Verde, jornaleiros, neto paterno de António Carneiro e de Alexandrina Rosa, e materno de Jerónimo Rodrigues e Joana Maria, foram seus padrinhos José Teixeira, Soldado da Guarda Fiscal, e sua mulher Maria Vieira da Silva.

O abade Francisco Pires de Morais.

 

Desde muito jovem, o Filipe veio para Outeiro Seco trabalhar para a família Montalvão como jornaleiro. Seria em Outeiro Seco que mais tarde iria iniciar a sua vida. Cedo começa o namorico com a Júlia Correia Branco, esta natural de São Tiago de Vilarelho da Raia, era serviçal (criada) da família Montalvão.

 

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 Fotograma de filme propriedade da família Montalvão Cunha gentilmente cedido por Luís Montalvão

 

O Filipe iniciou o cumprimento dos seus deveres militares no ano de 1916 e será nesse mesmo ano, no dia 28 de Dezembro, que casa com Júlia Branco, mas a jovem Júlia só tinha 17 anos de idade, pelo que foi necessário o consentimento dos pais da noiva.

 

Realizado o casamento, o casal passa a viver perto do Solar dos Montalvões, numa pequena casa na Rua de Santa Rita ao lado da casa da senhora Delfina, também esta natural de Vilarelho da Raia.

 

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 Fotograma de filme propriedade da família Montalvão Cunha gentilmente cedido por Luís Montalvão

 

O Filipe continua no cumprimento dos seus deveres militares. Podemos dizer que ainda estava casado de fresco e era mobilizado para combater em França. Assim o Filipe (Ranheta), no dia 23 de Maio de 1917, embarcava no cais de Alcântara, com destino a Brest, e daí para a frente de combate. Deixava para trás a sua jovem esposa com a idade de 18 anos, recém-casada e grávida de dois meses.

 

As notícias, quer de uma parte quer de outra, são muito poucas. O tempo passa não há notícias do marido, Filipe também não recebe notícias da sua Júlia. São decorridos 6 meses da partida do marido. Estávamos no mês de Novembro, Júlia completava o tempo da sua gravidez e no dia 17 de Novembro dava à luz um jovem do sexo masculino a quem seria dado o nome de Filipe.

 

O marido lá longe nada sabia, as notícias eram muito morosas. Seria este recém-nascido a felicidade daquela jovem mãe, mas talvez por azar do destino, essa felicidade viria a transformar-se em tristeza. No dia 27 de Novembro de 1917, pela 1 hora da tarde, o Filipe (filho) acabaria por falecer com apenas 10 dias de vida e toda a felicidade daquela jovem mãe desaparece como uma golfada de fumo.

 

O marido na frente de combate desconhece a sorte do seu filho e da sua esposa. A mágoa toma conta daquela jovem mãe. Foi o único filho do casal, ambos faleceram sem deixar descendentes.

 

Vamos agora, meus amigos, falar do combatente Filipe da Ascensão (Ranheta). Na nossa investigação verificámos o Boletim do CEP, assim como várias listagens, onde apurámos que se encontrava na freguesia de Santo Estevão.

 

No seu Boletim do CEP consta o seguinte:

Era soldado do Regimento de Infantaria 19, pertencia à 1ª. Companhia do 2º. Batalhão e ao 2ª. Depósito de Infantaria sendo o soldado nº 542, correspondendo-lhe a placa identificativa nº 64248, era casado com Júlia Correia Branco, e filho de Bernardino da Ascensão e de Maria Rodrigues, natural de Vila Verde de Santo Estevão, embarcou no cais de Alcântara, no dia 23 de Maio de 1917 com destino a Brest. Foi colocado na frente de combate no 4º Batalhão de Morteiros Ligeiros, em 24 de Julho de 1917.

Depois foi colocado no 1º Batalhão de Metralhadoras Ligeiras em 6 de Novembro de 1917.

Toma parte na célebre batalha de La Lys. Pela ordem de Serviço 13.1 afim de ser aumentado ao efetivo do B. em 6/11/1918.

Foi repatriado com a unidade no navio “Ovita” em 13 de Fevereiro de 1919. Desembarcou em Lisboa no cais de Alcântara em 16 de Fevereiro de 1919.

Regressou a Outeiro Seco são e salvo com pequenas mazelas que o iriam acompanhar durante toda a vida.

 

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Foi na sua aldeia adotiva que o Filipe iniciou a sua nova vida, juntamente com a sua esposa, dedicando-se à agricultura e a umas jornas que iam aparecendo.

 

Quem conheceu o Filipe Ranheta só pode ter boas recordações, era uma pessoa pândega, gostava da brincadeira. Eu fui um dos afortunados, pois ainda o conheci. Foi o único combatente que conheci. Dele recordo o cantar dos Reis à sua porta. Por altura das matanças mandavam-me a casa dele com um saco. Quando chegava pedia-lhe as pedras para lavar o porco. Uns meses antes do carnaval dizia à garotada da aldeia “Tenho lá o arranca-pinheiros”, “Tenho lá o salta-paredes”, “Tenho lá o arrasa-montanhas”, e toda a garotada tinha medo. Dizia que já tinham comido “X” quilos de batatas e carne e lá ficávamos à espera do dia de Carnaval para ver.

 

Toda esta vida de martírio e nada fácil para o Filipe Ranheta, acabaria no dia 4 de Agosto de 1970. Terminava assim a saga de mais um combatente da Grande Guerra.

 

João Jacinto

 

 

Consulta:

Arquivo Militar

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Livro Batismos de Santo Estevão

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Quarta-feira, 21 de Fevereiro de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – Abel Ramos Agrela"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

  

Caros amigos, na continuação do nosso trabalho e referente a mais um combatente da aldeia de Outeiro Seco na Grande Guerra, hoje será a vez de Abel Ramos Agrela.

 

Relativamente a este Outeiro Secano começámos a nossa investigação no Arquivo Militar à procura do seu Boletim do CEP, também procurámos em várias listagens, mas referências ao Abel Agrela, nada conseguimos. Como se costuma dizer, nem rastos.

 

Na aldeia de Outeiro Seco, por averiguações feitas há anos, e informações recolhidas, apenas nos falavam no Abel Agrela, era assim que ele era conhecido. Através dessas mesmas pessoas recebemos a informação de que o Abel Ramos Agrela foi soldado do Regimento de Infantaria 19 e que foi mobilizado para combater em França, só regressando em finais de 1918. Segundo estas indicações esteve na frente de combate, assim como na célebre Batalha de La Lys.

 

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Por lá passou as passas do Algarve, juntamente com outros combatentes regressou à sua terra natal são e salvo, apenas com umas pequenas mazelas. Tomámos a iniciativa de ir mais longe, para assim tentarmos saber mais sobre este Outeiro Secano.

 

Feitas as nossas contas do costume, fomos á procura do livro de batismos da freguesia de Outeiro Seco. Consultámos o Assento nº.23, do ano de 1891, que nos diz o seguinte:

Aos trinta e um dia do mês de Dezembro do ano de mil oitocentos e noventa e um, nesta igreja paroquial de São Miguel de Outeiro Sêco, concelho de Chaves, batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de Abel, que nasceu neste lugar no dia vinte e quatro de Dezembro, filho legítimo de José Ramos Agrela, jornaleiro desta freguesia e de Umbelina Rosa, natural do lugar de Curral de Vacas, freguesia de  Águas Frias, neto paterno de Sebastião Agrela e de Maria Rita, materno de José Mateus e de Teresa de Jesus. Foram seus padrinhos António Pereira do Rio e Maria de Jesus.

Padre António Gonçalves Amaro.

 

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Tentámos ainda localizar o local onde o Abel viveu a sua juventude, mas não tivemos certezas, apenas nos foi dito ou indicado o Bairro da Senhora do Rosário.

 

Passados cinco anos do seu regresso da Guerra, o Abel lança-se numa nova aventura, talvez à procura de uma vida melhor. A 25 de Fevereiro de 1924 embarca com destino à Argentina.  Não conseguimos descobrir o tempo que por lá esteve, nem quando regressou à sua terra natal. Soubemos que viveu alguns anos, até ao seu falecimento, num pequeno casebre em pedra, ao lado da casa do Firmino Caneco, ou seja, perto da casa do Eliseu André. 

 

Verificámos no seu registo de batismo apenas um averbamento, o do seu falecimento, no dia 22 de Abril de 1958, com a idade de 67 anos, com estado civil de solteiro. E assim terminava no ano de 1958 o percurso de mais um combatente da Grande Guerra.

  

João Jacinto

 

Consulta:

Arquivo Militar

Listagens de Genealogia

Arquivo Distrital Vila Real

Livro de Batismos da Freguesia de Outeiro Seco

Informações verbais de habitantes de Outeiro Seco

 

Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

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Quarta-feira, 7 de Fevereiro de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – Francisco Marcelino Antas (Morgado)"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

  

Hoje vamos falar do soldado Francisco Marcelino Antas (Morgado).

 

Quem era este soldado?

 

Iniciámos a nossa investigação através da indicação que nos foi transmitida verbalmente por algumas pessoas da aldeia, também através do pouco que se foi escrevendo sobre os combatentes.

 

Fomos à procura de um Francisco Morgado. Consultamos os Boletins do CEP que nos levaram até à aldeia de Bustelo, mas acabamos por desistir desta pista. Não estávamos no caminho certo.

 

Iniciámos então nova investigação, consultando várias listagens referentes aos soldados do Distrito de Vila Real, e nada de nada.

 

Começámos a pensar cá para nós: mais outro sem Boletim do CEP.

 

Alterámos o curso da nossa investigação. Fizemos as nossas contas e fomos a procura do livro de batismos da freguesia de Outeiro Seco. Rebuscámos, espreitámos, sei lá o que fizemos mais. Mas foi no livro de batismos da aldeia de Outeiro Seco, que descobrimos que a nossa pesquisa estava a ser mal direcionada. Aí verificámos que o seu nome correto é Francisco Marcelino Antas e, que o apelido “Morgado” não passava de uma alcunha.

 

Foi então iniciada uma nova pesquisa já com os dados certos, voltámos aos Boletins do CEP, ao Arquivo Militar, mas regressámos de mãos vazias.

 

Verificámos a listagem dos soldados do Distrito de Vila Real, também nada. Consultámos uma listagem só dos soldados sem naturalidade e é nesta listagem que vamos encontrar o Francisco Marcelino Antas. Sentimos uma alegria imensa.

 

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Identificado o seu código, chegámos à sua ficha do CEP, no Arquivo militar. Aí pudemos verificar o seguinte:

Que o seu nome era Francisco Marcelino Antas. Era o soldado nº.609 da 1ª. Companhia do Regimento de Infantaria 19, sendo a sua placa de identificação o nº. 33286. Diz-nos também que era solteiro e que era filho de José Marcelino Antas e de Ana Maria Melo e, era natural de Santa Cruz freguesia de Outeiro Seco, sendo o seu parente mais próximo seu pai.

Mas o seu boletim não fica por aqui e diz-nos que o combatente embarcou no dia 17 de novembro de 1917, em Lisboa, com destino a Brest e dali, para a frente de combate, onde durante praticamente dois anos passou as amarguras da guerra. E continua a descrição no seu boletim: “Diligência à escala de serviço em 10 de Dezembro de 1917. Presente e colocado na 1ª. Companhia em 6 de Março de 1918, onde ficou com o nº. 1149.”.

Será aqui, após a colocação nesta Companhia, que o Francisco Marcelino Antas vai assistir à maior tragédia no dia 9 de abril de 1918, a batalha de La Lys, onde lutou corpo a corpo, onde viu tombar os seus camaradas, ele assiste a todo aquele horror. É dado como desaparecido em 9 de abril de 1918. É desconhecido o seu paradeiro. O Francisco Marcelino Antas acabou prisioneiro dos alemães, sendo transferido para o campo de prisioneiros conjuntamente com outros portugueses, vindo a ser libertado no dia 12 de novembro de 1918.

 

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No dia 3 de Janeiro de 1919 desembarcava em Lisboa e dali para a sua terra natal. Em casa de seus pais viveu alguns tempos, para curar de certas chagas da guerra. A casa onde habitou este herói ainda resiste aos anos, hoje sem ninguém e já ameaçando ruína. Situa-se na Estrada de Outeiro Seco, do lado esquerdo quem vem para Outeiro Seco, junto ao cruzamento que dá para Santa Cruz.

 

O seu assento de batismo nº.16 do ano de 1892, diz-nos o seguinte:

Aos quatro dias do mês de Dezembro do ano de mil oitocentos e noventa e dois, nesta igreja paroquial de Outeiro Seco batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de Francisco, que nasceu no lugar de Santa Cruz, as nove horas da noite do dia vinte e seis de Novembro, filho legítimo de José Marcelino Antas, lavrador e de Ana Mello do lugar do Couto de Ervededo, neto paterno de Manuel Gonçalves Sevivas e de Joana Marcelina e materno de Francisco Mello e Bárbara Gonçalves, foram seus padrinhos Francisco Gonçalves Sevivas e Ana Gonçalves Sevivas, proprietários e casados.

Padre Gonçalves Amaro"

 

Verificámos também o seu assento de casamento nº3 que nos diz:

Que no dia 21 de Fevereiro do ano de 1921, Francisco Marcelino Antas, solteiro de 29 anos natural de Outeiro Seco, filho legítimo de José Marcelino Antas e de Ana Mello, e Maria Gonçalves Sevivas, solteira de 27 anos filha de Francisco Gonçalves Sevivas e de  Silvana Leite, contraiam matrimónio. Foram testemunhas Vitorino Teixeira e Maria do Carmo.

Padre Elias António José Alves.

 

Alertámos os nossos amigos leitores que muitas das vezes os registos nos aparecem com várias gafes ou erros, pois no seu assento de batismo verificamos alguns.

 

Francisco Marcelino Antas viria a falecer no dia 7 de dezembro de 1971, conforme assento nº 573. Faleceu na sua casa na estrada de Outeiro Seco com 79 anos de idade.

 

Deixou três filhos também já falecidos, sendo eles o Vitorino, o David, e o Lelo Morgado, que casou com a Hermínia que era irmã do José Chaves (Zé Rico).

 

Caros amigos e leitores assim completamos a história de mais um herói.

 

João Jacinto

 

 Consulta:

Arquivo Distrital Vila Real

Arquivo Militar

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Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

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Quarta-feira, 31 de Janeiro de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – José Manuel Figueiras"

 

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914/1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

 

Vamos continuar a divulgar os combatentes da 1ª. Guerra Mundial, pertencentes à aldeia de Outeiro Seco. Hoje vamos falar de outro combatente. Seu nome é José Manuel Figueiras.

 

Alertamos desde já, que também relativamente a este combatente, não foi encontrada a sua ficha do CEP, nem o seu nome foi encontrado nas várias listagens consultadas. Apenas temos conhecimento através de indicações verbais, fornecidas por pessoas idosas da aldeia, que nos informaram que ele foi um dos mobilizados para combater em França.

 

Este combatente fazia parte do Regimento de Infantaria 19, onde se tinha alistado. Partiu para a frente de combate com 20 anos de idade, no dia 17 de Novembro de 1917. Esteve na frente até ao mês de Janeiro de 1919, data do seu regresso. Ali sofreu as amarguras da guerra, ali lutou como um valente. Regressou à sua terra como muitos outros, acompanhado por algumas mazelas.

 

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Afim de sabermos mais um pouco sobre este combatente, consultamos o livro de batismos da paróquia de Outeiro Seco. Verificamos o seguinte:

Assento nº1/1897

Aos sete dias do mês Janeiro de mil oitocentos e noventa e sete, nesta igreja paroquial de São Miguel de Outeiro Seco, batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino, a quem dei o nome de José, que nasceu neste lugar e freguesia as sete horas da tarde do dito dia e mês, e ano filho legítimo de João Manuel Figueiras, natural de São Mamede de Argeriz, concelho de Valpaços, e de Ana da Cruz, natural deste lugar e freguesia, neto paterno de Carolina Pinto, avô incógnito, e materno de Domingos da Cruz e Inocência Rosa, foi seu padrinho António Joaquim de Amorim, estudante e residente neste súbdito lugar e freguesia, e a invocação de Nossa Senhora da Azinheira. Padre José Maria Moutinho

 

Segundo aquilo que nos foi dito por alguns populares da aldeia, aquando da sua partida para a frente de combate, deixou na aldeia a namorada. Tendo o mesmo prometido que logo que regressasse casaria com ela.

 

Com esta informação fomos à procura do livro de matrimónios da paróquia de Outeiro Seco. Para nossa admiração verificamos que a informação dada pelas, pessoas da aldeia encaixava que nem uma luva. Verdadeiramente o José foi homem de palavra, pois como podemos verificar no Assento nº 21:

Em 21 de Abril de 1919 na igreja paroquial de São Miguel de Outeiro Seco, contraiam matrimónio José Manuel Figueiras de 22 anos de idade, batizado e residente nesta freguesia filho legítimo de João Manuel Figueiras, e Ana da Cruz moradores nesta freguesia, ela Lucinda de Jesus, solteira de 28 anos de idade, batizada nesta freguesia e residente, filha de António Luiz e de Gertrudes Pereira. Foram testemunhas, José Gonçalves Chaves e Teresa de Jesus. Tendo este ato sido realizado pelo. Padre Elias António José Alves

 

Lá diz o ditado “ palavra dada, palavra honrada”, pois que o José chegava em Janeiro de 1919, e em Abril de 1919 casava.

 

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Engaços de madeira

 

A guerra passou, o José juntamente com a sua companheira dá início a uma vida nova, com algumas chagas da guerra, dedica-se à agricultura, cuidando de algumas courelas na aldeia.

 

O José vivia na última casa do Canto da Mochica, (nome dado ao Bairro nesse tempo), hoje chama-se Rua do Rosário.

 

Pelos vistos e dando fé às muitas informações, o José Figueiras foi sempre uma pessoa que gostou de ajudar os vizinhos nos trabalhos agrícolas e, que na altura das malhas do centeio, era um gosto vê-lo de engaço (ancinho) de madeira ao ombro, pois o seu trabalho nas malhas do centeio, era apenas o de fazer o palheiro da palha ou meda de palha. Segundo os habitantes de Outeiro Seco, o José Figueiras fazia aquele trabalho com mestria, deixava um palheiro que “nem uma piorra”, era de se lhe tirar o chapéu.

 

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Foto da procissão da Sra. da Azinheira tendo em segundo plano palheiros, um deles encimado por uma cruz

 

O calendário marcava o dia 28 de Dezembro de 1960, pelas 10 horas da manhã, na sua casa o José Manuel Figueiras, com a idade de 63 anos, partia para Deus. Deixou 5 filhos, neste presente momento já todos falecidos, o José (mais conhecido pelo Zé da Eira), a Maria, a Teresa, o António, e por último o Adelino.

 

Assim terminou o percurso de mais um combatente da grande guerra de 1914/1918.

 

João Jacinto

Consulta:

Arquivo Distrital de Vila Real

Arquivo Militar

Blog Genealogia

 

Pesquisa e textos remetidos pelo Sr. João Jacinto.

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Quarta-feira, 24 de Janeiro de 2018

Contributos - João Jacinto - "Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918 da aldeia de Outeiro Seco – Manuel dos Santos"

COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914-1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO

 

Os militares de Outeiro Seco que estiveram na 1ª. Grande Guerra, de 1914-1918, têm sido votados um pouco ao esquecimento.

Agora que se comemora o centenário deste acontecimento, aproveito esta oportunidade para publicar aquilo que ao longo de alguns anos consegui amealhar, quer através de investigação, quer através de conversas com algumas pessoas da aldeia, muitas delas já falecidas.

Tive o cuidado de lhes pedir para me falarem sobre os combatentes de Outeiro Seco. Tarefa nada fácil, por várias razões que aqui não interessam especificar. Julgo ser necessário preservar a memória da participação dos nossos antepassados na 1ª. Guerra Mundial, mas não foi pera doce.

A indicação das atuais referências têm um valor meramente indicativo, pois nem sempre a indicação da localidade foi rigorosa, o que nos leva muitas das vezes, a uma identificação não correta e nos induz em erro. Também muitas das vezes verifiquei erros nos boletins do CEP, a falta de boletins ou eventuais perdas dos mesmos.

Consultar listagens, ou milhares de boletins em arquivos que nos leva muitas das vezes a não ser possível realizar o trabalho de forma célere, e tanto quanto possível rigoroso e correto.

Mas mesmo assim, com todos estes constrangimentos, vou tentar fazer o possível para levar esta informação ao conhecimento dos mais jovens e até, de muitos familiares dos combatentes ou seja, “tirá-los do anonimato” e assim, dar-lhes o lugar que merecem na história de Outeiro Seco.

Alguns passaram pela guerra nas ex-colónias, seguindo depois para os campos de batalha em França. Pelo menos um dos combatentes de Outeiro Seco, ficou nos cemitérios de França, outros regressaram com várias mazelas no corpo. Ainda me recordo quando era miúdo, ouvir aos mais idosos a seguinte frase, “vieram gaseados da guerra”. A vida dura das trincheiras, onde não era fácil numa terra desconhecida, onde o frio a lama, a chuva, a neve, os gases e as balas, eram os companheiros do dia a dia.

Sobre alguns combatentes pouco temos a dizer, pois a sua ficha do CEP não foi encontrada e não foi possível a sua consulta, mas mesmo assim, vamos tentar fazer uma resenha de cada combatente. Muitas das vezes sentimos vontade de não realizar este trabalho, devido à falta de material e estivemos em vias de abandonar, face a tanta dificuldade. Mas de um momento para o outro, algo nos animou e hoje sinto-me feliz pela investigação realizada e em trazer aos outeiro secanos, uma parte da história dos nossos combatentes, os nossos heróis da batalha do 9 de Abril de 1918, “La Lys”.

 

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Iniciamos este trabalho com o soldado: MANUEL DOS SANTOS

Relativamente a este combatente, tivemos grandes dificuldades na investigação, não foi possível a consulta da sua ficha, encontramos alguns combatentes com o mesmo nome e apelido. Consultamos as respetivas fichas, uma levou-nos até Tronco, outra até ao Couto de Ervededo, tudo errado, pois a indicação que tínhamos era que ele era soldado do Regimento de Infantaria 19. Procuramos em várias listagens e detetamos um Manuel dos Santos, de Chaves, mas incorporado pelo Regimento de Infantaria 30, mas para nosso azar não foi possível o acesso a essa ficha do CEP. Ficamos na dúvida, será ele? Não será? Mesmo assim continuamos a nossa pesquisa referente ao Manuel dos Santos.

Sabemos que ele foi mobilizado para a guerra e que partiu em 23 de Maio de 1917 para Brest e dali, para a frente de combate, onde lutou como um bravo transmontano, só regressando à sua terra em 1919. Por informação recolhida no livro Retrato Social de Outeiro Seco, da autoria do seu neto Nuno Santos, ficamos a saber que ele foi prisioneiro dos Alemães. Seguimos esta pista através de várias listagens de prisioneiros mas nada de nada se descobriu. Também através do mesmo livro o seu neto diz-nos que ele foi criado de João Júlio Alves.

 

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Digitalização da capa do livro de Nuno Santos

  

Feitas as contas respetivas, fomos à procura da sua origem. Detetamos o seu registo de batismo, e que nos diz o seguinte:

ASSENTO Nº.181

Que no dia cinco do mês de Setembro do ano de mil oitocentos e noventa e cinco na freguesia de Santa Maria Maior, da vila de Chaves, que foi batizado solenemente um indivíduo do sexo masculino, a quem dei o nome de Manuel, que nascera pelas nove horas da manhã do dia seis de Agosto, e era filho natural de Ana Eusébia, solteira, nascida e batizada na freguesia de Vreia de Bornes, concelho de Vila Pouca de Aguiar, e residente atualmente no Bairro das Caldas. Era neto materno de Casimiro Pinto e Maria Joaquina, e da parte paterna avós incógnitos. Foram seus padrinhos Francisco José e sua mulher Emília da Conceição, ambos residentes em Vidago.

 

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Baseados nesta informação fomos ao seu registo de casamento no ano de 1920, que diz o seguinte:

No dia 11 de Novembro na igreja matriz de São Miguel de Outeiro Seco, com 25 anos de idade Manuel dos Santos, contraia matrimonio com Maria Joaquina Teixeira (há registos com Ferreira), de 20 anos de idade natural de Outeiro Seco, filha legítima de Augusto José e de Mafalda Teixeira. Foram testemunhas João Júlio Alves, e Beatriz Ferreira. Este tão nobre ato foi celebrado pelo: Padre Elias António José Alves.

Deste enlace acabariam por dar vida aos seguintes rebentos: Ana (falecida), Beatriz (falecida), Augusto (falecido). António (falecido), José (ainda vivo), Alfredo (ainda vivo), Silvestre (falecido).

Habitava na sua casa junto da ponte da Ribeira da Torre na entrada sul do Bairro do Penedo, mas como as mazelas da guerra não dão tréguas, com a idade de 60 anos, falecia a 9 de Novembro de 1955, na sua casa do Penedo. Assim finalizava o percurso na sua terra adotiva, este herói da grande guerra.

 

João Jacinto

 

Consulta:

Arquivo Distrital

Arquivo do Exército

Vários blogs de genealogia

Informações orais

Livro de Nuno Santos, Retrato Social de Outeiro Seco no Século XX

Livro de Manuel H. Lourinho, Prisioneiros Portugueses na Alemanha

 

Pesquisa e texto remetidos pelo Sr. João Jacinto

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Nota: Este é o contributo nº 50 do Sr. João Jacinto a este blogue.

 

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Quarta-feira, 20 de Dezembro de 2017

Contributos - João Jacinto - "A Minha Consoada - António Granjo"

 

A Minha Consoada 

 

A Minha Consoada Logo ao anoitecer a mesa estava posta. Ao centro, a travessa com a pilha das rabanadas; aos lados, formando cruz os pratos do polvo frito, dos ovos verdes, dos bolos de bacalhau. Entre os braços da cruz, o arroz doce, a aletria, as filhozes.

 

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Numa banca, ao lado montes de pinhões, de avelãs e de amêndoas para depois da ceia se jogar ao rapa. Debaixo da mesa a braseira acumulada de brasas, trazidas da lareira, aquecia a sala. A geropiga transluzia no bojo das garrafas.

Nas canecas refervia o carrascão. O Pai subia as escadas vagarosamente. Sentia-se estalar as castanhas no assador. A Mãe acudia da cozinha para dar a última demão à mesa.

 

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O Pai sentava-se à cabeceira. E a garotada arrastava as cadeiras para se sentar cada um no seu lugar. Os creados sentavam-se à mesma mesa. Solenemente, o Pai partia o pão para cada um, e conforme ia dando em mão aos filhos, os seus olhos pousavam sobre eles molhados de ternura. A Mãe voltava à cozinha, e aí vinham as travessas de bacalhau com montanhas de batatas e couves.

 

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Começava a falar-se alto. A braseira queimava as pernas. Os copos e os pratos tilintavam. A outra cabeceira sentava-se a Mãe, mais perto do corredor para poder vigiar melhor a cozinha. Batia um pobre à porta. Ouvia-se os seus passos trôpegos subir as escadas e arrastarem-se pela cozinha até ao escano, cujas mesas estavam postas para os que viessem à procura de lume e da consoada.

Lá fora as árvores gemiam zurzidas pelo vento. Na noite escura, um ou outro desarrabaldado que se tinha deixado ficar mais tempo fora de casa, batia apressadamente a calçada com os socos ferrados.

 

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A garotada enchia a casa com o seu claro riso. A Mãe levava o dedo ao nariz para os fazer calar ou acenava-lhes com a cabeça para o Pai, para que se lembrassem que deviam estar com modos à mesa diante dele. O Pai sorria. Nas paredes caiadas, a luz batia sobre os retratos, cercando-os de um doirado nimbo de alegria. De vez em quando os olhos dos dois encontravam-se, demoravam-se uns nos outros um instante, e uma lágrima os enevoava como uma onda de doçura.

Um bébé, começava a dormitar sobre o espaldar da cadeira. Um creado levava-o ao colo para a cama, com os braços pendentes e o rosto deitado para a luz, còradinho como um anjo do altar. Ouviam-se as palavras mansas dos pobres conversando à lareira. O cão de guarda rosnava no quintal. O vento sacudia a noite. O Pai erguia-se quando via que já ninguém tocava no último prato e que todos tinham bebido o último gole de jeropiga. Punha as mãos. Todos estavam já de pé com as mãos postas. Ia-se levantar a mesa e dar graças a Deus. À voz do Pai no silêncio que se fizera, dizia lentamente:

- Pelas benditas almas do Purgatório, padre-nosso, ave-Maria!

 

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Erguia-se o coro das orações murmuradas. Da lareira vinha o sussurro dos pobres que acompanhavam a oração. – Pelos que andam sobre as águas do mar, para que Nosso Senhor os leve a porto de salvamento, padre-nosso, ave-Maria!. Uma creada entrava e ficava de pé, com o terço pendurado nas mãos postas. – Por todos os transviados da casa do Senhor, para que a fé os ilumine e encontrem o arrependimento e salvação, padre-nosso, ave-Maria! Acabada a ave-Maria, o mais velho adiantava-se: Deite-me a sua bênção meu Pai! E voltando-se para a outra cabeceira:

- Deite-me a sua bênção, minha Mãe! O Pai respondia gravemente: - Deus te abençoe, meu filho! A Mãe tinha levado um lenço aos olhos e fora para a cozinha destinar a comida aos pobres. E era então que se jogava os pinhões, ao calor amigo da braseira, entre a alegria doida da noite. A espera do sono, antes que lhe fizessem a cama, um pobre contava uma história que aprendera nos caminhos, enquanto o toro de carvalho ardia e os seus olhos cansados de vagabundo seguiam a chama errante. E não se sabia ao certo como é que a gente se deitava, dormia toda a santa noite, acordava no dia seguinte com uma carícia das mãos da nossa Mãe, para ir ver à igreja matriz o presépio do Menino Deus.

António Granjo

(N 27121881 - F 19101921)

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António Granjo

Foto: Wikipédia

 

Pesquisa e texto remetidos pelo Sr. João Jacinto

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Quarta-feira, 20 de Janeiro de 2016

Contributos - Sr. João Jacinto - "O Padre Domingos Pinheiro"

 

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Padre Domingos Pinheiro

 

Quando qualquer cidadão ou Outeiro Secano entra na Igreja Matriz de São Miguel de Outeiro Sêco, e segue até à capela-mor, bate de frente com um belíssimo retábulo.

Aí verifica a seguinte frase "Este retábulo mandou pintar o Padre Domingos Pinheiro sendo pároco desta paroquia no ano de 1758".

 

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Desde miúdo me interroguei, quem seria aquela pessoa, para mandar pintar?

De onde era?

Quem era?

 

O meu pensamento de criança dizia devia ser muito rico. Mas não me esqueci sempre que visito a igreja, recorda-me o Padre Domingos Pinheiro, nunca tive uma resposta das pessoas mais idosas da aldeia. Mas não desanimei, continuei a procurar. Mas como quem procura, algo deve de achar, encontrei.

 

Hoje relato aqui aquilo que encontrei, saciando assim a minha curiosidade.

 

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Decorria o ano de 1684, no dia 25 de Setembro lá para os lados do Bairro do Eiró, nascia um menino a quem seria dado o nome de Domingos, era mais um filho de um casal abastado de Outeiro Seco.

 

Nesse mesmo mês recebe o batismo das mãos do Padre Sebastião Gonçalves, tendo por padrinhos Pedro Álvares, e sua mulher Isabel Rodrigues.

 

Domingos seria o segundo filho do casal Miguel Sobrinho e Ana Pinheira, teria por avós maternos António Gonçalves e Maria Pinheira, avós pela parte paterna Gaspar Sobrinho e Isabel do Eiró.

 

Domingos cresceu, brincou pelas ruas de Outeiro Seco como todas as crianças da aldeia. Domingos aprendeu as primeiras letras em casa do Padre Sebastião Gonçalves.

 

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Domingos foi crescendo, o destino tinha já sido destinado pelos pais, ser sacerdote. Ajudava o Padre Sebastião na missa dominical. O Padre Sebastião   comungava da mesma opinião dos pais.

 

Domingos ainda jovem deixa Outeiro Seco, parte com destino à cidade de Braga, na companhia do seu tio Padre André Pinheiro, que era sacerdote em Braga. Matriculado no Seminário de Braga onde passa o resto da sua juventude.

 

Com o tio por perto, Domingos aos 25 anos recebe o celibato, é ordenado padre. Domingos depois da sua ordenação ainda permanece 13 anos em Braga.

 

Domingos com a idade de 38 anos regressa à sua terra natal e em Fevereiro de 1722, é nomeado Padre da Paroquia de São Miguel de Outeiro Seco, sendo depois mais tarde nomeado Reitor Da Paroquia de Outeiro Seco, Sanjurge e Bustelo.

 

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Domingos homem de grandes conhecimentos, evangelizador, lança mãos à obra e em sua casa funciona a primeira escola onde ele mesmo ensina as primeiras letras sendo assim vários Outeiro Secanos preparados para a vida.

 

Constrói uma nova residência paroquial, manda pintar o retábulo da igreja.

 

Altar Sra Dores Sagrado Coração - 740

 

Já em pleno ano de 1768 em 25 de Setembro Domingos Pinheiro completa 84 anos. Nesse mesmo ano, a 1 de Dezembro, dia de Todos os Santos Padre Domingos deixava Outeiro Seco, e partia para os braços do criador, sendo a sua última vontade ser sepultado na Igreja de São Miguel de Outeiro Seco, junto do Altar da Senhora das Dores, onde repousa.

 

Daqui lançamos um bem-haja, Padre Domingos Pinheiro, pelo que nos deixaste, para hoje te recordarmos.

 

Mas convém lembrar o seguinte, que a sua irmã Maria Sobrinho, daria origem à família Álvares Ferreira. Também o seu pai Miguel Sobrinho era o homem que tinha em seu poder o testamento relativo à capela da Senhora do Rosário, quanto valioso seria hoje esse testamento para desvendar o mistério da capela.

 

João Jacinto

 

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Quarta-feira, 22 de Outubro de 2014

Contributos - Sr. João Jacinto - "Capela da Senhora do Rosário"

 

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Não vou aqui publicar mais que o documento, que há uns anos atrás encontrei quando ainda existia o "FORUM de Outeiro Seco", tendo eu nessa altura falado sobre Capela de Nossa Senhora do Rosário. Pois aquilo que fui juntado sobre a dita Capela daria pano para mangas. Relativamente às pinturas murais nem uma palavra. Apenas me vou limitar a transcrever o respectivo documento. Mas desde já alerto, que algumas palavras podem estar erradas, devido o ser difícil a sua leitura:

 

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TABOA DE TODAS AS MISSAS DE CAPELLAS NESTA FREGUESIA DE SÃO MIGUEL E NOSSA SENHORA DA AZINHEIRA NESTE LUGAR DE OUTEIRO SECCO TERMO DA VILLA DE CHAVES.

 

Tirado do livro de Capellas o mais moderno da Comarca Eclesiastica em Chaves foll. 235 versus.

Aos vinte e quatro dias do mês de outubro de mil seiscentos e noventa e trés. Eu o Padre Pascoal Fernandes Vigário da paróquia de São Miguel de Nossa Senhora da Azinheira neste lugar de Outeiro Secco, o primeiro anno da minha residência nesta freguesia, por não constar do livro nem taboa de missas que havia de Capellas, nem administradores dellas, procurei estas obrigações no Escrivão da Camara Eclesiastica, o Reverendo Paulo Coutinho. Ao qual paguei nove vinténs de busca e me apresentou o livro de Capellas desta Comarca de Chaves o mais moderno e delle a foll. 235 versus.

Trasladei, as verbas de todas as obrigações de missas de Capellas que constam pertencerem a esta freguesia, e os administradores dellas e são os seguintes;

A Capella de Nossa Senhora do Rosário tem sette missas que institui o Reverendo Padre Belchior Pires, e obrigou a ellas, quinhentos reis de esmola cada anno, os quaes se devem pagar de humas casas, e de uma horta contigua a ellas: As casas são de Antonio Pires a horta he de Sebastião Sanches, e ambas peçoas, estão obrigadas a estas missas.=Sebastião Sanches e Antonio Pires fizeram constar por termo no mesmo livro e que em vida paga cada hum duzentos e cinquenta reis, e está neste termo a foll. 250 versus.

Dizem-se no advento, foi e he administrador da horta Antonio de Magalhães e he administrador das casas Antonio Madeira ambos de Outeiro Secco.

 

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O Reverendo Padre António Teixeira deixou dez missas perpetuas e a ellas obrigados, vinte medidas que pagam Pedro Gonçalves das Moças de Ervededo cinquo, e duas que paga Gaspar Dias o Grilo seis partes Sebastião Alves de Outeiro Secco e sete medidas que paga Isabel Gonçalves Àvoa de Ervededo  que possue Sebastião Ribeiro de Bustello e seis medidas paga Francisco Gonçalves de Outeiro Secco, que possue Apolinário Fernandes.= Depois vi o testamento  em poder de Miguel Sobrinho em que manda pagar estas missas a oitenta reis.=Foi e são administradores, desta Capella Miguel Sobrinho e Isabel Alves  estes de Outeiro Secco e Sebastião Gonçalves de Bustello e a todos os tres manda pagar cada um que lhe façam igualmente, 26> e soma tudo oitocentos reis.

O Reverendo Padre Francisco Gonçalves deixou uma vinha às Antas, a suas herdeiras com obrigaçam de uma missa cada semana paga a tres vinténs, são cinquenta e duas cada anno. Esta vinha possue Margarida Pires mãe das herdeiras do dito padre= foi e he administrador  o Parocho e a aldeia, com a igreja por morte do meu antecessor. E não constava de mais verbas de missas de Capellas em dito livro  foll. 235 pertencentes a esta freguesia de Outeiro Secco. 

 

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Somente dizia hua verba na mesma folha o seguinte: A Capella  de Nossa Senhora do Rosário tem uma leira---------(não deciframos o Local)----- e uma outra no Ribeiro de Nabelhos tapada sobresi; e huma cortinha da parte da Antonio Pires ao Penedo, sementeira de meio alqueire todos tres obrigados á fabrica da mesma Capella. E não dizia mais o dito livro das Capellas que ficou em poder do dito Escrivão.

Foi de presente, de novo o meu antecessor o Reverendo Sebastião Gonçalves deixou todos os seus bens vinculados a seu irmão Antonio Gonçalves com a obrigação de trinta missas perpetuas cada anno; e que as deverá o sacerdote seu parente mais chegado.

= Espero contar a todo o tempo aos meus superiores de tudo o referido acima fiz esta lembrança neste livro dos mortos, e tudo escrevi qua  verdade. Sem entrelinhas nem borrão causa que duvida façam em dito dia mês e anno acima declarado e me assinei

Padre Pascoal Fernandes

 

João Jacinto

 

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Quarta-feira, 14 de Maio de 2014

Contributos - Sr. João Jacinto - "TRADIÇÕES"

 
 
 TRADIÇÕES

 

Mais uma tradição que se perdeu em Outeiro Seco, enquanto umas se vão mantendo a todo o custo, ou tentando manter-se outras acabaram  por desaparecer, ou se perderam no tempo, resistindo apenas pequenos fragmentos delas.

 

Tanto umas tradições como outras perdem-se no tempo as suas origens.

 

 

Como muitas pessoas sabem  depois de passada a Páscoa (rica em tradições), contamos 40 dias e chegamos a Quinta-Feira da Ascensão do Senhor, sendo este dia festejado em todos os lugares de Portugal, sendo em muitas partes  designado pela "Festa da Espiga".

 

Também em Outeiro Seco, tinha a sua tradição neste dia, fazendo parte do seu quotidiano, mas desapareceu esta tradição, não sabemos quando.

 

 

Noutros tempos as gentes de Outeiro Seco, tinham por hábito no dia da Ascensão, ir pelo campo apanhar flores e alguns arbustos, com esses materiais confeccionavam lindos ramos.

 

Esses ramos eram possuidores de grandes virtudes, talvez como o ramo do dia de Ramos que depois de benzido, tem utilidade para várias coisas.

 

Estamos em plena Primavera, tempo de sementeiras, e tempo de abundantes flores silvestres nos campos de Outeiro Seco.

 

Os materiais que compunham estes ramos eram diferentes do de domingo de Ramos.

 

 

Apanhavam-se  umas espigas de trigo abundante nessa época em Outeiro Seco,  e que significa  no ramo (abundância), pequenos ramos de oliveira (cujo significado é a paz), papoila (cujo significado  é a alegria), malmequer branco (que significa a prata), malmequer amarelo (cujo significado é o oiro).

 

A particularidade no meio disto tudo é que todo este material para elaborar o ramo tinha de ser em número ímpar, tinham  de ser apanhados de preferência entre o meio-dia e as 13 horas, e durante a sua apanha tinha de ser acompanhada de uma reza, que consistia em três avé-marias e três pais-nossos para que o ramo adquirisse todas as virtudes e poderes.

 

Considerava-se isto uma autêntica prece dirigida ao Criador, e também para que nesse ano houvesse abundância de trigo, centeio, azeite ou seja um ano farto.

 

 

Também muitos Outeiro Secanos nesta altura deambulavam pelos campos  à procura de uma erva aromática  com fins terapêuticos, e acho que ainda há nos nossos campos, era muito utilizada em chá, e a melhor era a apanhada neste dia, chamava-se "MACELA".

 

O ramo desse dia da Ascensão, guardava-se  em casa no melhor local para manter todas as virtudes e protecção da casa e dos seus moradores.

 

Todo este cerimonial  assim como tantos outros, tem a ver com as diferentes festas agrárias durante o ano, podemos remeter isto tudo talvez ao tempo dos habitantes de Santa Ana.

 

Todas estas tradições esquecidas, assim como outras que aos poucos se vão perdendo, são autênticos rituais que nos ligam ao passado de Outeiro Seco, sendo como que o suporte  da nossa identidade, e que muitas das vezes se manifesta na Fé, e que por respeito e valor daquilo que nos foi legado pelos nossos antepassados.

 

 

Muitos dos Outeiro Secanos ainda hoje guardam na sua memória tempos antigos, quando pelas ruas da aldeia transitavam os carros de bois, era comum no mês de Maio, ver os bois ou outros animais com ramos de maia na cabeça. E as pessoas da aldeia diziam que era por causa das moscas não irem para os olhos dos animais. Eram restos da tradição dos “MAIOS”.

 

Também não é por acaso o altar Celta da Capela de Santa Ana, também outro altar que existiu no cimo do Alto de Santa Ana, e que foi destruído no tempo das invasões monárquicas 1912.

 

 

Também Leite de Vasconcelos, nos fala de um enorme túmulo junto da Senhora da Azinheira  e descoberto aquando da construção do Cabido, talvez a chave do passado de Outeiro Seco.

 

Outra referência que muito se ouvia as pessoas de Outeiro Seco, noutros tempos era o lugar do MOCHO, cemitério de animais de outros tempos onde acabavam os últimos  dias, nos anos 50 só lá viam carcaças. Quantas vezes se ouvia os mais idosos dizer, "quando morrer levai-me para o mocho", ou então "se queres uma dentadura nova vai o mocho".

 

Também no final da malha do centeio se levava o patrão e o filho mais novo ao "pedro" que era o fundo da meda de centeio. Ainda hoje se diz em Outeiro Seco "que no dia da Ascensão nem os passarinhos deviam ir ao ninho".

 

Tudo isto nos foi legado pelos nossos antepassados desde tempos remotos, e é pena que se vão perdendo. Ficamos por aqui mas prometo em breve voltar.

 

João Jacinto

 

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Quarta-feira, 12 de Março de 2014

Contributos - Sr. João Jacinto - "Olha o Bombo!!!!!"

 

 

 

OLHA O BOMBO!!!!!

 

Vamos a mais uma história de Outeiro Seco.

 

Estávamos em pleno ano de 1936, tempos difíceis, mas a vida na pacata aldeia de Outeiro Seco corria dentro da normalidade.

 

Embora as necessidades dos seus habitantes fossem muitas, pois a nível geral a vida do dia-a-dia era difícil, iam-se cultivando os campos e granjeando o sustento de cada dia.

 

Havia na aldeia um grande número de jovens, que ajudavam nas tarefas agrícolas, não só a família como amigos e vizinhos.

 

 

Muitos deles lá iam frequentando a escola, pouco ou nada havia para se distraírem, a não ser algumas brincadeiras de infância.

 

É no seio de essa juventude, que dois jovens tomam a iniciativa de fabricarem uma gaita, para assim fazerem a animação dos restantes nas horas livres.

 

O Zé Ribeiro e o Eustáquio Dias, lançam mãos à obra e a gaita começa a ganhar forma.

 

Mas longe de pensarem que estavam a lançar o fermento, que mais tarde levaria à formação do gaiteiro.

 

O sonho torna-se realidade, a curiosidade move os restantes jovens da aldeia, e dá-se início à formação do gaiteiro.

 

Procura-se uma pessoa para ensinar as primeiras notas, vão-se adquirindo alguns instrumentos, entre eles o bombo, o sonho de toda essa juventude vai tomando forma.

 

 

Nessa época, o bombo que as bandas possuíam tinha uma dimensão enorme, em relação aos actuais, também tinha muito mais peso.

 

Ora sucede que o bombo do gaiteiro tinha pertencido a Banda do Regimento de Infantaria 19, tendo umas dimensões assustadoras.

 

Já decorridos uns meses desde o início dos ensaios, eis que os aprendizes se sentem com folgo para realizarem uma arruada pela cidade de Chaves.

 

Estava-se já nos finais de 1936, e decide-se fazer a dita arruada a um Domingo de manhã, munidos dos respectivos instrumentos lá vão os mariolas de alongada até Chaves.

 

Chegados à Praça Antiga, início da Rua das Longras, toca a formar e a dar inicio à dita arruada, cujo percurso seria Rua das Longras, Rua de Santo António, Rua 1º. Dezembro, Largo do Anjo e Rua Direita, pois que nessa época as ditas ruas tinham dois sentidos.

 

 

Tudo corria às mil maravilhas, não cabiam em si de contentes, mas como não há duas sem três, já o gaiteiro descia a meio a Rua Direita, quando uma correia do bombo rebenta, e o Manuel Martinho deixa cair o bombo.

 

O bombo começa a rolar rua abaixo, todos os elementos do gaiteiro correm atrás do bombo, mas cada vez rola com mais velocidade.

 

Faz uma tangente ao candeeiro, que havia no largo do Arrabalde e só parou na esquina de uma casa da Rua da Ponte Romana.

 

Mas caros leitores ainda hoje podem lá ver na esquina dessa casa as marcas onde o bombo embateu.

 

Pois meus caros amigos tudo isto não passou de uma mera invenção, de uma mente iluminada, para se divertir à custa do gaiteiro de Outeiro Seco

 

 

João Jacinto

 

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Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2014

Contributos - Sr. João Jacinto - "A TACOILA OU CAIXOTE"

 

 

 

A TACOILA OU CAIXOTE

 

Assistimos muitas das vezes, ao desaparecimento de alguns artefactos que muitas das vezes foram nossos companheiros de infância.

 

Muita da nossa juventude actual desconhece parte dessas peças, torna-se necessário levá-las ao seu conhecimento, pois fizeram parte do dia à dia da nossas gentes.

 

Hoje ainda muitos Outeiro Secanos, já no caminho da terceira juventude ainda se recordam deste pequeno artefacto, e de grande utilidade, para muitas das mulheres de Outeiro Seco.

 

 

Hoje vou falar desta pequena peça utilitária, e que desapareceu talvez por volta dos anos 80, quando sopravam na aldeia os ventos da modernidade.

 

Com a distribuição da água ao domicílio, as mudanças a nível da habitação, a utilização de materiais mais resistentes, este pequeno artefacto viu-lhe ser passada a sua sentença de morte, deixando ter utilidade.

 

(1)

 

A TACOILA ou (CAIXOTE) como lhe queiram chamar.

 

Quem não se recorda das lavadeiras da ribeira da Torre, que junto á ponte do Papeiro, e junto á ponte principal de um lado e de outro, ou no fundo da rua dos Pelames, todos os dias fizesse frio ou calor, lavavam a roupa, discutindo ou cantando alegres canções, ou pondo a conversa em dia.

 

Pois a TACOILA ou (CAIXOTE) era companhia da maior parte das lavadeiras, era ai que assentavam os joelhos, evitando de sair com eles magoados ou molhados, pois ai passavam várias horas a lavar a roupa, ficando assim durante aquele tempo com os joelhos resguardados.

 

 

 

Muitas das vezes o transporte da tacoila ou caixote até ao rio, era da responsabilidade do filho mais pequeno.

 

Mas não era só no rio que a tacoila ou caixote tinha a sua utilidade, também quando se fazia a barrela á casa.

 

Hoje a tacoila ou caixote, perdeu a sua utilidade passando a fazer parte do passado.

 

Espero que ainda exista alguma lá por Outeiro Seco, para que um dia possa ser mostrada à nossa juventude.

 

João Jacinto

 

Fonte:

(1) - Foto pertencente ao blogue: http://terrenho.blogspot.pt/2011/11/tacoila.html 

 

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Quarta-feira, 12 de Fevereiro de 2014

Contributos - Sr. João Jacinto - "Falando de Homens de Valor - Joaquim Estorga Salgado"

 

 

FALANDO DE HOMENS DE VALOR

 

JOAQUIM ESTORGA SALGADO

 

 

Em todas as aldeias existem personagens tratadas com deferência, sem muitas das vezes terem aparentemente nada que os destaque dos restantes habitantes, enquanto outros deveriam permanecer na memória colectiva, só restando deles o nome ou talvez uma simples fotografia, já agastada pelo tempo.

 

 

 

Quando procuramos saber quais os Outeiro Secanos que foram mobilizados para a 1ª. Guerra Mundial de 1914-1918, fomos confrontados que no espaço de duas décadas, nas gerações mais idosas, esses acontecimentos tinham praticamente caído no esquecimento.

 

Pelo que soubemos é que essas ocorrências deixaram traumatismos, e marcas que muitas das vezes não queriam ser relembradas e que foram passadas em terras bem distantes, e que após o seu regresso, e a dureza dos tempos que corriam, e uma vida intensa relegaram esses acontecimentos para segundo plano, ou passaram para o esquecimento.

  

Foi com grande surpresa quando procedíamos à nossa investigação sobre os combatentes de Outeiro Seco, sendo eles os seguintes; “ Manuel dos Santos, José Figueiras, Francisco Morgado, Filipe Ranheta (este natural de V. Verde Raia), Sargento José Francisco Gonçalves Sevivas, Abel Agrela, 1º. Cabo Joaquim Estorga Salgado, Albino de Carvalho, soldado nº 929, filho de João Carvalho e Maria Silvana, único Outeiro Secano falecido em terras de França, faleceu em 06/03/1918 de tuberculose pulmonar, pertencia à 1ª. Companhia do Regimento de Infantaria 19. Mas será apenas sobre o combatente, Joaquim Estorga Salgado que aqui vamos escrever.

 

O Joaquim nasceu em Outeiro Seco a 03/08/1893, filho de António Estorga Salgado e de Maria Júlia Alves ou (Portela) era o 2º. Filho do casal de um total de 8 irmãos.

 

(1)

 

O Joaquim percorreu as ruas da maravilhosa aldeia de Outeiro Seco, durante a sua mocidade, aqui conviveu com outros jovens, foi nesta aldeia que aprendeu as primeiras letras.

 

Já com os seus 19 anitos viu na madrugada do 08/07/1912, passar as tropas de Couceiro.

 

Quis o destino que logo no ano seguinte (1913), o Joaquim assentasse praça no Regimento de Infantaria 19. Faz a sua recruta no R.I. 19, sendo promovido no final da recruta a cabo, talvez esta promoção ou a falta de perspectivas levem Joaquim, a seguir a vida militar.

 

 

 

Já em pleno ano de 1914, as coisas pela Europa não estão famosas, paira no ar o som dos tambores de Guerra.

 

Chegado o mês de Janeiro de 1915, logo no inicio o Regimento de Infantaria 19, de Chaves, no seu 3º. Batalhão, é recebida a ordem de mobilização com destino a Africa, pois as colónias eram alvo de investida por parte dos Alemães.

A 17 de Janeiro de 1915, procede-se ao sorteio das praças das classes de 1912 e 1913, do 1º. e 2º. Batalhão de Infantaria 19, e que deveriam completar o efectivo a mobilizar.

 

(2) 

 

A 28 de Janeiro, seguiu para Lisboa o 1º. Contingente de soldados do R.I. 19, sendo fixada a partida dos restantes soldados o dia 31 de Janeiro de 1915.

 

Às 13 horas do dia 31/01/1915, após uma breve alocução, pelo Coronel Augusto César Ribeiro de Carvalho, comandante do Regimento, toda a força militar saiu a caminho de Vidago. Nesse mesmo dia parte o comboio com destino à Régua, onde seria feito o transbordo com destino ao Porto.

 

Às primeiras horas do dia 1 de Fevereiro, chegavam ao Porto, feito novo transbordo para o comboio que os levaria a Lisboa (Santa Apolónia), sendo logo feito o desembarque, seguem para o quartel da Cova da Moura, à espera da viagem marítima.

 

Às 12 horas do dia 3 de Fevereiro, todo o pessoal e material, já se encontra no paquete Portugal, da parte da tarde larga âncora com destino à Madeira, fazendo ai escala, para logo no dia seguinte seguir novamente viagem com destino a Angola.

 

 

(2)

 

Já ao amanhecer do dia 19 de Fevereiro, se avistava a baia de Luanda permanecendo ai algumas horas, para logo iniciar viagem com destino ao porto de Moçâmedes, onde chegou às 7 horas do dia 23 de Fevereiro. Nesse mesmo dia desembarca todo o Batalhão, dirigindo-se de imediato para o acampamento, no lugar das Hortas.

 

Em 20 de Março ai permanecem no acampamento, durante a sua permanência em Moçâmedes, onde prestam vários serviços, o Batalhão procedeu a várias escoltas de comboios, tendo essas operações sido confiadas aos 1º. Cabos, e que a seguir são mencionados, e os quais cumpriram essa missão com a maior lealdade e patriotismo:

1º. Cabo Manuel Monteiro, José Gomes, Ildefonso Valério Ferreira Pinto, José do Nascimento, Cassiano José Mendes; Cesar Augusto Mirandês, Guilherme Ribeiro, Manuel Joaquim, João Maria Teixeira, Domingos Alves Mestre, Eduardo Leitão dos Santos, Artur Elias Sousa, Henrique Pascoal, Algemino Duarte, José Lopes Diogo, Francisco Augusto de Sousa, e JOAQUIM ESTORGA SALGADO.

 

A 2 de Julho o Batalhão deixa Moçâmedes. Já na noite de 3 de Julho chega a Quilemba, executando na manhã do dia 4 marcha ate Lubango, onde ficou alojado.

 

 

(2)

 

A 16 de Julho ai é instalado o quartel-general, serão os contingentes da 11ª. Companhia e 12ª. que vão fazer parte da conquista do Cuahama, sendo assim dado começo ao 2º. período das operações além Cunene.

 

No dia 24 de Julho às 7 horas a Companhia 11ª e 12ª partem para Humbe, onde chegaria a 9 de Agosto com 302 soldados e os seguintes oficiais, sargentos e 1º. Cabos.

12ª. Companhia, Capitão António Rodrigues da C. Azevedo, Alferes Frederico Tamagnini de S. Barbosa, João Almeida Serra, Henrique Perestrelo da Silva, 1º. Sargento Rafael Gama, 2º. Sargento Amílcar Afonso P. Camoezas, António Mendes Cardoso, Ermogénio de Almeida, Júlio António da Trindade, 1º. Cabos António dos Santos, JOAQUIM ESTORGA SALGADO, Guilhermino Ribeiro, José do Nascimento, João Eduardo Coelho, José Joaquim Dias Pereira, Henrique Pascoal Artur Rodrigues, António Rodrigues e Firmino Morais.

 

A 20 de Agosto toda a 12ª. Companhia passa a fazer parte da coluna do Cuamato, marchando para o Vau de Chimbua. Incorporados no destacamento do Cuamato, tendo tomado parte no combate da #Chana da Mula# em 24 de Agosto. Vindo depois a ser incorporados no destacamento de Negiva. Sendo destacados no posto de Oxinde desde 4 de Setembro. Sendo as forças de Infantaria 19 incorporadas nesse destacamento.

 

Já quase a findar o ano de 1915, e no dia 13 de Dezembro, o 3º. Batalhão de Infantaria 19, marcha de Lubango a Vila Arriaga, para voltar a Moçâmedes, regressando ao continente em 11 de Março de 1916, chegando ao regimento de Infantaria de Chaves a 31 de Março 1916, tendo ficado em terras de Africa 33 bravos transmontanos.

 

O Outeiro Secano Joaquim regressa à sua terra natal, mas continua ao serviço do R. Infantaria 19, tinha à sua espera a família e a sua futura esposa.

 

Joaquim Estorga Salgado casa nesse mesmo ano em 07/12/1916, com Ana Chaves Barrocas, o jovem recém casado passa pouco tempo com a sua esposa, desconhecendo o que a sorte lhe reservava.

 

Às 24 horas do dia 21 de Maio de 1917, saia de Chaves com destino a Lisboa, o 1º. Batalhão de Infantaria 19, a fim de constituir em França o 2º. Depósito de Infantaria do Corpo Expedicionário Português.

 

Nele seguia o Outeiro Secano Joaquim Estorga Salgado do 1º. Batalhão, 2ª. Companhia e do 2º. Depósito de Infantaria sendo o 1º. Cabo nº 380 cabendo-lhe a placa de identificação nº. 9876, embarcou com destino a Brest (França) em 23/05/1917.

 

Chegado a terras de França, a 13/06/1917, JOAQUIM ESTORGA SALGADO, é colocado no batalhão do Regimento de Infantaria 21, com vários outros bravos transmontanos. Embora dispersos pelos vários Batalhões, em terras de França, os bravos transmontanos do 19 de Infantaria, cantavam por vezes, até mesmo em plena 1ª. linha o Hino do Regimento de Infantaria 19, da autoria do Flaviense “Gastão de Sousa Dias”.

 

 

(2)

 

Em pleno mês de Março de 1918, todo o sector Português, era um autentico inferno de ferro e fogo, e que viria a ter por epilogo a batalha de “La-Lys”, os valorosos transmontanos de Infantaria 19, lembrando os velhos tempos. E os grandes dias de glória, laçam-se sobre as trincheiras inimigas no sub-sector de “Ferme de Bois”, num importante “raid” e inutilizam a 2ª. linha alemã. Pela maneira como se portaram em tão importante acção uns foram promovidos e outros condecorados. Entre eles o Outeiro Secano JOAQUIM ESTORGA SALGADO.

 

Do épico “raid” de 9 de Março de 1918, cabe ainda mais glória à Infantaria 19. Nele tomaram parte com elogiosas referências, os sargentos desta unidade Albano Joaquim do Couto, JOAQUIM ESTORGA SALGADO, os quais foram assim distinguidos”.

 

 

JOAQUIM ESTORGA SALGADO

Condecora com a Cruz de Guerra de 4ª. Classe Military Medal Inglesa e louvado, pela decisão e valentia de que deu provas no comando da fracção que lhe foi confiada no “raid”, efectuado com completo êxito pela sua companhia em 9 de Março de 1918-O.E. nº. 10 (2ª. Série) de 1920”.

Lembramos ainda que o Joaquim Estorga Salgado, em 22 de Dezembro de 1917, era promovido ao posto de Sargento.

 

Em 16/03/1919, apresenta-se no Comando Militar em França, a fim de seguir para Portugal, tendo desembarcado em Lisboa no dia 3 de Abril de 1919.

 

 

 

Feita a sua apresentação no R. Infantaria 19 em Chaves. Regressa à sua terra natal, para recuperar de algumas mazelas da guerra.

 

Feita essa recuperação deixa também o serviço militar, sendo a sua permanência na aldeia, muito curta. Parte à procura de uma vida melhor, conjuntamente com a sua esposa e filha mais velha, vai viver e trabalhar para Anadia. No posto Agrícola de Anadia, ai permanece alguns anos.

 

Talvez pelo ano de 1924, regressa à terra natal, passando a trabalhar na Escola Agrícola Móvel Alves Teixeira em Vidago. Vindo a falecer em 26/03/1949. Tendo deixado quatro filhos: Maria, Eugénio, Augusto, e António, também já todos falecidos.

 

(3)

 

Orgulhe-se Outeiro Seco, e não esqueça, este “seu filho” que terá sido um herói que andou por terras de África, passando mais dois anos de combates contínuos na 1ª. Guerra Mundial, e de grande sofrimento, soube ultrapassar as dificuldades, actuando nos momentos de perigo de forma destemida e heróica, como lhe foi reconhecido nos louvores que recebeu.

  

   João Jacinto

  

(1) - Fotografia gentilmente cedida pela Ana Maria Salgado

(2) - Livros da colecção particular do Sr. João Jacinto

(3) - Fonte: http://chavesantiga.blogs.sapo.pt/173447.html

 

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Quarta-feira, 29 de Janeiro de 2014

Contributos - Sr. João Jacinto - "As origens da família Estorga Salgado"

 

 

AS ORIGENS DA FAMÍLIA ESTORGA SALGADO

 

Hoje dedicamos este texto à família Estorga Salgado, não foi fácil levar a cabo esta tarefa, só com muito trabalho, paciência e muita dedicação, foi possível completar toda esta tarefa.

 

Vai para dois anos que iniciamos essa investigação, tivemos muitas dificuldades, mas graças às ajudas de algumas pessoas e amigos, conseguimos transpor muitos dos obstáculos que encontramos pelo caminho. Completamos a informação necessária, mas não completa.

 

A 13 de Setembro de 1859, nascia na freguesia de Santo Estevam de Faiões, uma criança do sexo masculino, a quem seria dado o nome de António, filho legítimo de Manuel Estorga, e de Ritta Mello, neto paterno de Pedro Estorga e Maria Salgado, e neto materno de Manuel André e Luísa Mello.

 

Vista superior da aldeia de Faiões

 

Em 23 de Dezembro de 1860, nascia na aldeia de Outeiro seco uma criança do sexo feminino, a quem seria dado o nome de Maria Júlia, filha legitima de António Júlio Portella (Alves), e de Maria José Silva, natural de Bustello e Residentes no Bairro do Eiró, em Outeiro Seco, sendo a segunda filha do casal, era neta paterna de Luís António Portella e Maria Barroso (?), e neta materna de Luís António Silva e Teresa de Jesus.

 

António Estorga Salgado, com a idade de 18 anos casa com Maria Júlia Portella (Alves), esta com a idade de 17 anos, casam em 13 de Setembro de 1877, na Igreja Paroquial de S. Miguel de Outeiro Seco.

 

Será em Outeiro Seco que organizam a sua vida, aqui nascem 8 filhos.

 

1 - Secundino Astorga Salgado, nasce em 9 de Outubro de 1881, pelas 4 horas da tarde, a 1 de Maio de 1895, com a idade de 13 anos emigra para o Brasil, nunca mais veio a Portugal, mas descobrimos que o Secundino no ano de 1930, possuía um restaurante na Rua de Santa Tereza nº. 20 em São Paulo, com o nome de "A Pereira da Minha" (?). Neste mesmo ano é decretada falência por um Tribunal de São Paulo, nada mais conseguimos saber sobre esta pessoa.

 

2 - Joaquim Astorga Salgado, nasceu a 3 de Agosto de 1893, falaremos deste filho mais tarde, apenas faremos aqui referência aos seus filhos, Maria Salgado (falecida), Eugénio Salgado (falecido), Augusto Salgado (falecido), e António Salgado (falecido).

 

3 - Filomena Salgado, nasce em 21 de Março de 1895, até á idade de 19 anos vive em O. Seco, em 3 de Julho de 1914, com 19 anos emigrou para o Brasil, nada mais soubemos sobre ela.

 

4 - Rita de Jesus Salgado, nasce em 21 de Março de 1897, casou em O. Seco a 3 de Abril de 1917, com António Gonçalves Chaves, viveram sempre em O. Seco, tiveram 4 filhos; Ilda Chaves (falecida, Octávio Chaves (falecido), Silvano Chaves (falecido), Joaquim Chaves (falecido).

 

(1)

 

5 - Anna Salgado nasce em 9 de Março de 1899, nada conseguimos saber sobre esta filha.

 

6 - Cândida Júlia Salgado, nasce em 17 de Março de 1901 ás 11 horas da manha, Casou com Jaime Rodrigues de Santo Estevão, para onde foi viver faleceu em 23/06/1969, sabemos que deixou 2 filhas.

 

7 - Beatriz Salgado, nasce em 26 de Abril de 1903, ás 8 horas da manha, também não conseguimos saber mais nada sobre ela.

 

8 - Silvana da Graça Salgado, nasce em 2 de Julho de 1905, casou em 13 de Março de 1924, com Manuel Mello de Vila Verde da Raia e era Guarda Fiscal, viveu em O. Seco Tiveram os seguintes filhos; Minda Mello (ainda viva), Jaime Melo (falecido), Didi Melo ainda viva por terras de França, Tina Melo (ainda viva), Humberto Mello ainda vivo e a residir em Outeiro Seco.

 

Feita a apresentação de toda esta ilustre família, vamos agora falar um pouco do seu Patriarca, António Estorga Salgado.

 

Como já dissemos era natural de Faiões, casou com 18 anos na aldeia de Outeiro Seco. Aqui se estabelece, e vive alguns anos, até no dia 3 de Maio de 1882, com a idade de 22 anos decide emigrar para o Brasil, à procura de uma vida melhor, tendo-lhe sido concedido o passaporte, pelo prazo de 90 dias, não sabemos o tempo que esteve por lá.

 

Mas pensamos que esteve lá poucos anos. Descobrimos alguns dados sobre o António, tinha 1,65 m de altura, sobrancelhas cabelos e olhos castanhos, tendo o nariz e a boca regular, a cor da pele natural, tinha uma mancha na mão esquerda, e uma cicatriz no rosto.

 

Já em inícios de 1887 se encontra em Outeiro Seco, onde possui uma taberna, estando localizada essa taberna, na casa que hoje é da Sra. Bia, aparece-nos várias vezes referenciado com a profissão de carpinteiro, e também de negociante, em 1888 ainda possui a taberna.

 

Casa da Sra. Bia

 

Em 8 de Setembro de 1895, no final da festa da Sra. da Azinheira, juntamente com mais pessoal de Outeiro Seco, envolvem-se na maior desordem de que há memória na aldeia, sendo necessário para restabelecer a ordem uma força de 14 soldados de Cavalaria 6 e o Administrador do Concelho, Barros de Moura.

 

A ordem é restabelecida e os desordeiros são presos, sendo julgados em Março de 1896. Damos aqui conta da notícia publicada num jornal local da época:

 

Voz de Chaves de 22/03/1896

Foi recebida com geral agrado a que no Tribunal Judicial desta Comarca, foi proferida contra todos os selvagens auctores da desordem de Outeiro Secco, por ocasião da romaria de N. S. da Azinheira, no verão passado. Folgamos em registar este acto de imparcialidade das justiças flavienses, tanto mais segundo consta, tinham-se movido altas influencias para evitar a punição dos criminosos".

 

Em 24/03/1896 encontramos o seu registo de preso na cadeia civil de Chaves, sendo- lhe dado o preso nº.15.

 

Também durante o ano económico de 1897/1898, se encontra registado no Livro de Pagamento de Congruas, da Aldeia de Outeiro Seco pagando a quantia de 240,00 mil reis.

 

Já em Janeiro do ano de 1900, é nomeado Regedor da Aldeia.

 

Em 10 de Março de 1902 é nomeado perito avaliador dos terrenos ocupados pela estrada que liga Outeiro Seco a Vilarelho.

 

A 2 de Novembro de 1904, é novamente nomeado Regedor sendo exonerado do cargo em 16 de Agosto de 1906.

 

Sabemos que foi um grande republicano, defendendo a Republica em 8/07/1912, em Outeiro Seco aquando da invasão dos Paivas.

 

Era um homem rijo e duro de roer, não ia nas conversas dos Padres, dizendo estes que ele era maçónico.

 

Também soubemos que em 1915 ou 1916 vai ao Brasil, mas não temos certeza. Não descobrimos a data do seu falecimento, mas pensamos que tenha falecido muito novo, e talvez em finais do verão de 1916, pois quando o seu filho Joaquim foi para a grande Guerra, ele já tinha falecido, e o filho foi para a guerra em 23 de Maio de 1917. Segundo aquilo que apuramos que ele teria falecido de um disparo acidental com uma espingarda.

 

Segundo a informação que temos, ele possuía uma vinha no lugar do Penedo, e na altura das uvas as pessoas iam fazer a sua guarda, pelos vistos ele tinha nessa propriedade uma barraca como a dos pastores, onde pernoitava, sucede que um dia quando se ia deitar, puxou as mantas para se agasalhar, tendo uma das mantas ficado presa na espingarda, e tendo assim disparado o tiro que o atingiu no abdómen, causando-lhe a morte imediata. Só foi encontrado no dia seguinte já morto.

 

Nada mais temos a acrescentar. Apenas esclarecer o seguinte, e que não é erro, muitos dos registos aparecem, escritos ESTORGA, com um E, e outros aparecem com um A.

 

João Jacinto

 (1) Foto gentilmente cedida por uma neta de uma linda Avó que esta na foto

 

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Quarta-feira, 8 de Janeiro de 2014

Contributos - Sr. João Jacinto - "Património desaparecido"

 

 

 

PATRIMÓNIO DESAPARECIDO

 

Hoje vamos falar de lagares de azeite que noutros tempos existiram em Outeiro Seco.

 

Em meados de Novembro, início de Dezembro, dava-se começo à apanha da azeitona. Grandes ranchos de homens e mulheres, labutavam todos os dias na apanha azeitona, quer estivesse frio ou chuva.

 

 

A quantidade de oliveiras nesse tempo na aldeia era enorme, muitas delas eram pertença das grandes famílias da época. Isto levou a que a aldeia tivesse de ser dotada de dois lagares, face a grande quantidade de azeitona.

 

Os testemunhos que resistiram à erosão do tempo, vêm provar de forma inequívoca a exploração olivícola e do fabrico do azeite na aldeia de Outeiro Seco antigamente.

 

 

Hoje, é diferente a situação. Contam-se pelos dedos as oliveiras. Também dos lagares já pouco ou nada resta, de um já só existe o sítio. Mas não queremos que passem definitivamente para o esquecimento, e por isso aqui hoje vamos falar deles.

 

Um deles existia junto da casa do Bouças, na eira dos Pipas, e foi pertença do avô do Engº. João Manuel Montalvão, aquando da sua desactivação as pedras do lagar foram compradas pelo Miguel Sanches, para construção de um lagar para fabrico de vinho, vindo a ser instalado nas traseiras do café do Flávio Félix, existindo ainda por lá vários vestígios desse lagar (pedras).

 

 

Relativamente ao outro, era pertença do José do Rio (velho), era no Eiró, junto da sua casa de habitação, num palheirão que ainda lá existe, e ai existem lá vários vestígios, como as mós, este laborou até muito tarde.

 

Foi responsável pelo lagar um individuo de nome Gabino, era também de fuso e peso, e era puxado por uma junta de bois.

 

 

Todos aqueles produtores de azeite da aldeia, e que produziam uma determinada quantidade de azeite, tinham por obrigação todos os anos de dar uma determinada quantidade de azeite para a igreja, para alumiar o Santíssimo durante todo o ano.

 

 

João Jacinto

 

 

Publicado por Humberto Ferreira às 00:05

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Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2013

Contributos - Sr. João Jacinto - "Louceiro ou Lançador"

 

 

LOUCEIRO OU LANÇADOR

 

Hoje não vamos falar de tradições de Natal, embora Outeiro Sêco tenha algumas relacionadas com esta quadra festiva, e que um dia prometo aqui trazer.

 

Vamos sim, falar de um móvel tradicional de Outeiro Sêco, e que noutros tempos ornamentava as cozinhas antigas da aldeia, quer ela fosse de pobre, remediado ou rico.

 

 

Hoje já serão poucos, ou nenhuns que ainda conseguem resistir à evolução dos tempos.

 

A partir mais ou menos da década de 70, dá-se uma revolução na cozinha tradicional de Outeiro Sêco, era a modernidade. Começam a aparecer pela aldeia as primeiras chaminés de cimento, os conhecidos chupões para extrair o fumo da lareira, e que vem substituir a pequena abertura no telhado.

 

O chão de madeira é substituído pelo cimento, o alguidar de lavar a loiça é substituído pela banca de cimento ou de inox.

 

(1)

 

Este móvel conhecido na aldeia por louceiro ou (lançador), que até aqui tinha feito parte do recheio da cozinha, vê os seus dias contados. Era um móvel sem qualquer mestria, feito por carpinteiros da aldeia, embora houvesse daqueles de se lhe tirar o chapéu.

 

Podemos afirmar que em Outeiro Sêco existiam 4 modelos de louceiros, pois estes modelos tinham a ver com a condição social das famílias, e assim se possuía o tipo de louceiro.

 

A cozinha era naqueles tempos o aposento onde se passava a maior parte do tempo, e quase sempre de grandes dimensões, famílias numerosas, grandes trabalhos agrícolas, matança e também toda a família pelo Natal. A lareira sempre rodeada de grandes escanos, o trasfogueiro de granito onde assentavam grandes toros, não faltando os potes de ferro, além das tenazes e do abano.

 

Mas fosse a cozinha pobre ou rica, ou remediada o louceiro (lançador), lá estava presente.

 

(2)

  

Mas este móvel sempre em datas festivas era enfeitado, com lindos papeis recortados de jornais antigos, feitos pelas mãos de uma fada, a dona da casa. Se a dona tinha mais posses comprava-os na mercearia, e tinham a particularidade de serem colados com uma papa de farinha. Ali se liam e reliam as notícias do jornal, até o fumo dar cabo delas.

 

 

Sendo ainda enfeitados por lindas tigelas (malgas), e pratos além das travessas, ai se pendurava a colher de lançar o caldo, a candeia, a amotolia do azeite. Outros louceiros havia, que no fundo se escondiam os potes e os cântaros da água.

 

Hoje já serão poucos, ou nenhuns os que existem lá para os lados de Outeiro Seco.

 

Resta-nos a esperança de que alguém se lembre de guardar uma destas relíquias.

 

Bom Natal.

 

João Jacinto

 

 

# Lançador termo usado em Outeiro Sêco nessa época.

# Colher de lançar o caldo.

 

Fotos pertencentes às seguintes ligações:

(1) -  http://umaovelhanoquintal.blogspot.pt/2011/06/casa-do-lavrador-vilar-de-perdizes.html

(2) -  http://www.flickr.com/photos/jp_nascimento/4414131776/

 

Publicado por Humberto Ferreira às 00:05

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