Lendas de Outeiro Seco - A Lenda do Moinho do Cotête
Não muito longe da risonha aldeia de Outeiro Seco, encontra-se junto ao ribeiro que atravessa essa mesma aldeia restos de algumas paredes onde outrora foi um moinho acerca do qual corre a lenda seguinte:
Numa noite invernosa, em que o vento rugia furioso e as nuvens negras como pez se amontoavam no céu, ameaçando uma grande tempestade, o sr. António tocando um pouco apressado o jumento carregado de centeio dirigia-se para este moinho para durante a noite moer esse centeio e na madrugada seguinte entregar a farinha aos donos. Seguia o caminho da Bagueira, bastante molhado durante o inverno e aqui e ali da boca do homenzinho saia uma praga, porque se tinha enterrado na lama e tinha molhado os pés.
E ora praguejando ora batendo no burro pois teimava em não querer andar por ter medo aos arbustos que sobressaiam das paredes la teimava seguindo a rota do moinho. Chegado ao lugar chamado pinheiral novo houve o balir dum cordeiro no meio de uns arbustos. Aos primeiros balidos não fez caso, porque tudo ao redor eram pinhais muito vastos e julgou ser talvez um pastor, que andasse com o gado num lameiro o qual fica bastante perto do caminho.
O moleiro pensando nisso, uma certa tristeza lhe vinha por não poder roubar o cordeiro. Andou algumas dezenas de passos e eis que vê um cordeiro preto no meio dumas silvas o qual procurava desembaraçar-se delas e fugir.
O moleiro ao vê-lo fez parar o burro com um forte berro, solta imediatamente a parede porque era bastante baixa e corre para o cordeiro. Agarra-o pelas pernas e de um puxão solta-o das silvas. Depois olha para um lado e para o outro com o fim de examinar se alguém via e não vendo ninguém, levanta-o do chão dirigindo-se para o jumento que estava parado no caminho.
Coloca o cordeiro no burro ata-o bem com a corda da cabeçada pois ele teimava em querer fugir e cobre-o com o mantão com que ia coberto os sacos ; depois toca apressado o burro.
Não tendo ainda dado muitos passos, de novo para olhando em volta para ver se alguém tinha visto, mas não vendo ninguém continua o seu caminho. Uma alegria o invade, pois já tinha carne para algum tempo dizia o moleiro para consigo. Não satisfeito de novo dá uma olhadela à sua volta porque o cordeiro tinha soltado um forte balido podendo ter ouvido alguma pessoa e não lhe seria muito agradável perder o achado.
Mas não. A essas horas por aquelas redondezas só se ouvia o ruido dos pinheiros ao baterem uns nos outros impelidos pelo vento. O moleiro já antegozava os pedaços de carne, os quais já nessa noite iria saborear dizia consigo:
- "Que sorte tive hoje!. Destes achados raras vezes aparecem... só é pena não ter vindo a minha Rosa para preparar melhor a carne assada, mas não interessa; ela era capaz de não deixar matar o animal, para o entregar ao dono."
Neste momento já bastante próximo do moinho o cordeiro dá um balido mais forte. Imediatamente ele olha para todos os lados e depois com um curto desdém disse:
- "Berra, Berra, tu vais já comer..."
Chegando ao moinho tirou de cima do burro o cordeiro e embrulhando no mantão foi colocá-lo num canto do moinho sem se incomodar que os sacos do centeio se molhassem embora nesse momento já chovesse bastante.
Depois de ele dar mais uma vista de olhos e reconhecer já estar bem preso sempre se resolveu a ir buscar os sacos.
Após isto, acende o lume e aguça bem a faca, para o matar e esfolar. Vai buscar um alguidar para não se perder o sangue colocando-o junto duma pedra um pouco mais saliente. Desata a corda com a qual estava preso o cordeiro, trá-lo para o colocar sobre a pedra saliente e agarrando-o com uma das mãos, com a outra agarra a faca, que estava ao lado e procura espete-la no pescoço do animal, para assim o matar.
Ele dá um grande berro bem alto, coloca-se na tremonha da mó do moinho e com uma grande algazarra, pois era o demónio disse para o homem que tremendo como varas verdes estava transido de susto:
- "António in !.... Tens os dentes assim!...."
E abria a enorme bocarra na qual brilhavam com fulgor diabólicas mas enormes dentes.
- "António badalo!.... Tens os dentes de cavalo!..."
Desapareceu. O homem sem saber quase o que fazia deitou a correr para casa onde chegou sem poder falar e por mais que lhe fizesse a mulher, ele só dizia "um.... um......um.....", e nada mais.
Só no dia seguinte ainda o homem tremia de medo pode contar à esposa o sucedido. Depois de irem buscar todas as coisas, que estavam no moinho, diz a lenda nunca mais esse homem voltou a ir para esses lados, nem jamais moleiro algum quis ir habitar tal moinho.
Assim o tempo se encarregou de destrui-lo, em cujo lugar hoje já só vêem os restos das paredes.
Autor: L. M. C. - Ano de 1958
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