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Quarta-feira, 28 de Novembro de 2012

Contributos - Sr. João Jacinto - "Lendas de Outeiro Seco - A Lenda do Moinho do Cotête"

 

 

Lendas de Outeiro Seco - A Lenda do Moinho do Cotête

 

Não muito longe da risonha aldeia de Outeiro Seco, encontra-se junto ao ribeiro que atravessa essa mesma aldeia restos de algumas paredes onde outrora foi um moinho acerca do qual corre a lenda seguinte:

 

Numa noite invernosa, em que o vento rugia furioso e as nuvens negras como pez se amontoavam no céu, ameaçando uma grande tempestade, o sr. António tocando um pouco apressado o jumento carregado de centeio dirigia-se para este moinho para durante a noite moer esse centeio e na madrugada seguinte entregar a farinha aos donos. Seguia o caminho da Bagueira, bastante molhado durante o inverno e aqui e ali da boca do homenzinho saia uma praga, porque se tinha enterrado na lama e tinha molhado os pés.

 

Moinho das Freiras

 

E ora praguejando ora batendo no burro pois teimava em não querer andar por ter medo aos arbustos que sobressaiam das paredes la teimava seguindo a rota do moinho. Chegado ao lugar chamado pinheiral novo houve o balir dum cordeiro no meio de uns arbustos. Aos primeiros balidos não fez caso, porque tudo ao redor eram pinhais muito vastos e julgou ser talvez um pastor, que andasse com o gado num lameiro o qual fica bastante perto do caminho.

 

O moleiro pensando nisso, uma certa tristeza lhe vinha por não poder roubar o cordeiro. Andou algumas dezenas de passos e eis que vê um cordeiro preto no meio dumas silvas o qual procurava desembaraçar-se delas e fugir.

 

O moleiro ao vê-lo fez parar o burro com um forte berro, solta imediatamente a parede porque era bastante baixa e corre para o cordeiro. Agarra-o pelas pernas e de um puxão solta-o das silvas. Depois olha para um lado e para o outro com o fim de examinar se alguém via e não vendo ninguém, levanta-o do chão dirigindo-se para o jumento que estava parado no caminho.

  

Coloca o cordeiro no burro ata-o bem com a corda da cabeçada pois ele teimava em querer fugir e cobre-o com o mantão com que ia coberto os sacos ; depois toca apressado o burro.

 

Não tendo ainda dado muitos passos, de novo para olhando em volta para ver se alguém tinha visto, mas não vendo ninguém continua o seu caminho. Uma alegria o invade, pois já tinha carne para algum tempo dizia o moleiro para consigo. Não satisfeito de novo dá uma olhadela à sua volta porque o cordeiro tinha soltado um forte balido podendo ter ouvido alguma pessoa e não lhe seria muito agradável perder o achado.

 

 

Mas não. A essas horas por aquelas redondezas só se ouvia o ruido dos pinheiros ao baterem uns nos outros impelidos pelo vento. O moleiro já antegozava os pedaços de carne, os quais já nessa noite iria saborear dizia consigo:

 

- "Que sorte tive hoje!. Destes achados raras vezes aparecem... só é pena não ter vindo a minha Rosa para preparar melhor a carne assada, mas não interessa; ela era capaz de não deixar matar o animal, para o entregar ao dono."

 

Neste momento já bastante próximo do moinho o cordeiro dá um balido mais forte. Imediatamente ele olha para todos os lados e depois com um curto desdém disse:

 

- "Berra, Berra, tu vais já comer..."

 

Chegando ao moinho tirou de cima do burro o cordeiro e embrulhando no mantão foi colocá-lo num canto do moinho sem se incomodar que os sacos do centeio se molhassem embora nesse momento já chovesse bastante.

 

Depois de ele dar mais uma vista de olhos e reconhecer já estar bem preso sempre se resolveu a ir buscar os sacos.

 

Após isto, acende o lume e aguça bem a faca, para o matar e esfolar. Vai buscar um alguidar para não se perder o sangue colocando-o junto duma pedra um pouco mais saliente. Desata a corda com a qual estava preso o cordeiro, trá-lo para o colocar sobre a pedra saliente e agarrando-o com uma das mãos, com a outra agarra a faca, que estava ao lado e procura espete-la no pescoço do animal, para assim o matar.

 

 

Ele dá um grande berro bem alto, coloca-se na tremonha da mó do moinho e com uma grande algazarra, pois era o demónio disse para o homem que tremendo como varas verdes estava transido de susto:

 

- "António in !.... Tens os dentes assim!...."

 

E abria a enorme bocarra na qual brilhavam com fulgor diabólicas mas enormes dentes.

 

- "António badalo!.... Tens os dentes de cavalo!..."

 

Desapareceu. O homem sem saber quase o que fazia deitou a correr para casa onde chegou sem poder falar e por mais que lhe fizesse a mulher, ele só dizia "um.... um......um.....", e nada mais.

 

Só no dia seguinte ainda o homem tremia de medo pode contar à esposa o sucedido. Depois de irem buscar todas as coisas, que estavam no moinho, diz a lenda nunca mais esse homem voltou a ir para esses lados, nem jamais moleiro algum quis ir habitar tal moinho.

 

Moinho das Freiras

 

Assim o tempo se encarregou de destrui-lo, em cujo lugar hoje já só vêem os restos das paredes.

 

Autor: L. M. C. - Ano de 1958

 

João Jacinto

 

 

Publicado por Humberto Ferreira às 00:05

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9 comentários:
De Luís Fernandes a 28 de Novembro de 2012 às 11:41


Sabe bem ler uma historiazinha destas.
Ficava bem o moinho reconstruído.
Moinhos, pontões, alminhas, dólmens, sepulturas pré-históricas, cruzeiros, enfim, pequenos marcos do Passado que nos trouxe (e continuara a trazer) até ao Presente de cada um de nós, bem merecem, pelo menos, um sinal de respeito e de consideração.
Provavelmente, esse moinho nem abrigo para coelhos serve. Talvez para somente para um «velho mocho sinistro, de cabeça de pensador».
Não estranhe o autor do Blogue, nem eventual leitor, o parágrafo anterior. O Post(al) de hoje fez-me recordar Alphonse Daudet e as suas “Cartas do Meu MOINHO”.
(Talvez que na próxima tenha de «compor o discurso num bosquezinho» de OUTEIRO SECO).
Saudações

Luís Fernandes

De Humberto Ferreira a 29 de Novembro de 2012 às 08:17
Bom dia Sr. Luís,
Obrigado pelo seu comentário.
Os moinhos, tanto aquele aque se refere a lenda (que praticamente já não existe), como o das fotos estão em propriedades privadas.
Já as suas "peças" estarão espalhadas sabe-se lá por onde, como as da segunda foto, que estão num jardim junto à Igreja de Na. Sa. da Azinheira.
Talvez sigam os exemplos dados pelas instituições públicas que deliberadamente destroem (caso das sepulturas junto à Capela de Na. Sra da Portela) ou abandonam (caso do Solar dos Montalvões e outros) o patrímónio que nos foi legado.
Um abraço,
Berto
De Nuno Santos a 29 de Novembro de 2012 às 12:11
Quem lê um conto acrescenta-lhe um ponto. Esta lenda que terá sido escrita, presumo pela D. Mimi Montalvão Cunha, mas na aldeia é mais conhecida com outra versão. A acção terá decorrido no moinho das Freiras e não no da Serragem, nome pelo qual era conhecido o moinho do Cotete, sendo propriedade da família Ferreira, antepassados do administrador deste blog.
Desse moinho restam apenas as fundações, porquanto o moinho ardeu nos finais da década de trinta, ao que dizem por fogo posto, por um elemento da família proprietária.
O ponto acrescentado terá sido quanto autor do episódio. O povo diz ter sido com um dos antepassados do Gonçalos, daí o - Gonçalo im Gonçalo im o teu pai tinha os dentes assim.
A D. Mimi Montalvão Cunha tem outras lendas publicadas, eu próprio enquanto miúdo, li algumas publicadas no Comércio do Porto, um jornal que se lia diariamente em nossa casa, comprado pelo meu avô Eurico.
Um abraço,
Nuno Santos
De Humberto Ferreira a 30 de Novembro de 2012 às 10:16
Bom dia Nuno,
Obrigado pela tua visita e comentário.
Um abraço,
Berto
De joaojacinto a 30 de Novembro de 2012 às 11:44
Caro conterraneo quanto ao autor destas lendas, ou destes escritos sobre O. Seco no final eu irei publicar quem é a pessoa. Pois nem de O. seco é, alem disso possuo uma foto dele, netes te momento ainda é vivo segundo as informações que recolhi, não sei sé é decendente de Outeirosecanos. steve vários anos nas ex-colonias.por isso só pus as iniciais. Nem pareces ser Sportinguista, aguenta, eu tambem sou lagarto temos de aguentar. joaojacinto
De joaojacinto a 30 de Novembro de 2012 às 11:51
Caro conterraneo, quanto ao autor das lendas, tem um autor, não é de Ou. Seco , não sei se é descendente de pessoas de O. Seco, não vive atualmente no Concelho de Chaves, visita a terra que o viu nascer algumas vezes, ainda é vivo segundo as diligencias que fiz, e que Deus dê mais anos de vida. Esteve nas ex-colonias. Tenho foto dele ainda jovem, para veres vou publicar mais duas lendas dele. Mas se paciente nem pareces lagarto, eu tambem sou, e o Godinho ainda acredita no campeonato ta bem.joaojacinto
De Bastos Ferreira Patrique a 30 de Novembro de 2012 às 08:42
Ola primo, tens aqui um blog muito interessante, parabens. Ja ha muito que nao ia ver. Abraço
De Humberto Ferreira a 30 de Novembro de 2012 às 10:17
Obrigado Patrique.
Um abraço,
Berto
De Bastos Ferreira Patrique a 30 de Novembro de 2012 às 08:44
Ola primo, tens aqui um blog muito interessante, parabens. Ja ha muito que nao ia ver. Abraço

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