“… COMO SE FOSSE MEU”!
A primeira vez que viajei de comboio, apanhei-o na FONTE NOVA, foi para ir ser baptizado, num dia 13 de Outubro da II GG, pelo Pe. José do Nascimento Barreira, na Igreja de S. Pedro, em Vila Real.
A minha madrinha, irmã da minha avó materna, Conceição, tinha mais 58 anos do que eu.
O meu padrinho, filho de uma família muito amiga da minha madrinha, tinha mais 8 (oito!) anos do que eu.
Madrinha e padrinho moravam na «Bila». Ela, no Largo da Capela Nova; ele no Largo de S. Pedro, em casa anexa à Escola Comercial.
A madrinha era zeladora da Igreja do Carmo; o padrinho, filho de um célebre guarda-redes do Sport Club de Vila Real - o Silvino!
A essa primeira viagem seguiram-se outras, mais espaçadas, até à frequência do Liceu Camilo Castelo Branco, situado lá ao fundo da Avenida Carvalho Araújo e juntinho à entrada para a “Vila Velha”!
A Estação da «minha vida» era o Apeadeiro da FONTE NOVA.
Descia as Carvalhas, atravessava o Pedrete, descia o Monte da Forca e já estava na FONTE NOVA.
Ouvia as últimas recomendações da Avó São, dos primos e da D. Lucindinha, guarda da linha, trepava para a varanda, arrumava as cestas das «lembranças» e acenava-lhes, qual cavaleiro triunfante a iniciar uma nova cavalgada.
Passada a curva que escondia a Azenha do Agapito preparava-me para dizer adeus a quem estivesse à vista em S. FraGústo. Até chegar ao apeadeiro de Curalha sentia-me como se estivesse a percorrer o meu império. Ao atravessar a ponte parecia-me estar a atravessar uma fronteira. Olhava para os moinhos, para o açude e para a encosta que sobe até à MINHA ALDEIA, e logo no peito sentia uma picada de saudade.
Em todas as paragens arregalava os olhos como que a catar quadros que me contassem histórias fantásticas de donzelas, cavaleiros e mouros, de gente misteriosa e diferente, de parentes afastados que numa, duas ou três aldeias desses apeadeiros ainda por lá terei.
De Oura até Vila Pouca, julgava atravessar território «índio» ou de salteadores encapuzados.
Em Vila Pouca a paragem era, parecia-me, sempre muito mais demorada. Talvez fosse para o comboio esperar um bocadinho por uma qualquer «carreira» que viesse atrasada, desde o Alvão ou desde a Padrela!
Na estação da Samardã espreitava para todo o lado a ver se via rasto ou sombra de Camilo ou assistia a algum momento da «morte do lobo».
Na paragem de Abambres, já «estudante», na «Bila», aproveitava para fazer o levantamento topográfico de galinheiros e coelheiras, para o «assalto» do 1º de Dezembro.
A chegada, ou a partida, da Estação da «Bila», era sempre um «acontecimento».
Havia uma multidão de gente que chegava e que partia, quer para cima, quer para baixo, que é como quem diz, em direcção a Chaves ou em direcção à Régua.
Para se abraçar os familiares ou amigos (ou para se trocar o mais sôfrego e apaixonado olhar com o namorico!...) logo ao sair das carruagens, tinha de se pagar «bilhete de gare», na altura 1$00 (traduzo: UM Escudo) o que era uma fortuna, mesmo para os «estudantes» mais «afortunados»! Mas, de vez em quando, lá se arranjava maneira de fintar o Chefe da Estação e os «revisores».
De Chaves a Vila Real, e vice-versa, eram quase (ou sempre!) três horas de “truf-truf”!
Davam-me 20$00 (vinte escudos) para comprar o bilhete de 2ª, de Vila Real-Chaves e diziam-me:
- “Sobram dois tostões para qualquer eventualidade”!
(Era no tempo da fartura do aconchego familiar e do consolo de amigos!).
Às vezes, o comboio compunha-se com uma carruagem que transportava o correio.
O poβo dizia:
- “Olha, já lá vem (ou já lá vai) o comboio-correio”.
Às vezes, mais raras, havia um que dava saída a milhares de toneladas de “batatas de Chaves”.
O Poβo dizia:
- “Olha, lá vai (e só: lá vai!) o comboio-batateiro”!
Nos anos sessenta traziam e levavam gabelas de militares, que no BC 10 se preparavam para o «Ultramar». Algumas vezes, encheram-se de normando-tameganos com guia-de-marcha para os Quartéis de Recrutamento, qual deles o mais distante desta fronteira!
O «NOSSO» comboio também funcionava como contador do tempo: o que saía de Chaves, de manhã, avisava-nos da hora do levantar e preparar as trouxas para irmos para as aulas; o do «mei-dia» lembrava a muitas donas de casa que estava na hora de irem levar o almoço aos «homes» que andavam nas obras ou que trabalhavam nas Telheiras.
Hoje em dia, os bebés mais apressados nascem em ambulâncias (Já houve tempo em que deixaram de nascer em casa para nascerem na Maternidade do Concelho).
Outrora até se davam ao luxo de nascer no «NOSSO» comboio!
Então ouçam:
- Uma vez….
Havia as «CORRIDAS de VILA REAL».
Alguns polícias de Chaves foram lá reforçar a segurança.
Uma estremosa esposa de um dos mais simpáticos e bonacheirões polícias de Chaves, já com o tempo de gravidez contado, teimou em ir à «Bila» ver as «CORRIDAS» e envaidecer-se com o marido no «exercício de tão espectaculares funções».
As vizinhas bem a avisaram dos perigos que corria naquele estado.
Mas teimou, teimou, e proclamou:
- “Pois ir, vou”!
Não se hão-de a ficar a rir de mim”!
E foi.
Meteu-se no comboio, na Fonte Nova. Assistiu às «Corridas». Apanhou o comboio de regresso. E vinha toda triunfante e regalada por «ter levado a dela avante”!
Mas o bebé também quis caprichar.
Entre OURA e VIDAGO as dores de parto provocaram um enorme alvoroço.
Alguém puxou o alarme.
O maquinista ia morrendo de susto - nunca tal lhe tinha acontecido!
Parou o comboio.
A parturiente foi deslocada desde a Carruagem de 2ª classe, onde viajava, para uma Carruagem de 1ª classe.
Ao menino e ao borracho!.....
E não é que nessa Carruagem de 1ª classe viajava um Enfermeiro?!
Nasceu uma rapariga, linda de verdade. Mais linda do que a Ricardina do retrato.
Lá em Chaves, em criança, mal ouvisse o comboio a apitar, dizia, toda vaidosa, para quem a quisesse ouvir:
- “O comboio é meu”!
O Enfermeiro foi seu padrinho de baptismo.
Quantos comboios se podem gabar de terem servido de Maternidade?!
A última viagem, na Linha do Corgo, de que guardo lembrança fi-la nos finais dos anos sessenta, num dia de um invernio Janeiro, com uma daquelas geadas de deixar qualquer mortal feito em caramelo, desde a Régua até às Pedras Salgadas.
O comboio da Linha do Corgo foi, e é, sempre como se fosse meu!
M., 13 de Março de 2014
Luís Henrique Fernandes
In
Memórias de Uma Linha
Linha do Corgo
Edição da Lumbudus - Associação de Fotografia e Gravura
28 de Agosto de 2014
Visite a exposição fotográfica:
Visite:
http://dponteira.blogs.sapo.pt/
Para colaborar, envie os seus olhares para jhumbertoferreira@sapo.pt. Obrigado. Berto
A Vauco, empresa que representa e distribui Chevrolet e Isuzu para Angola, vai iniciar um recrutamento de responsável de Pós Venda, com gestão de negócio de Serviço e Peças.
Caso conheçam alguém que possa estar interessado e ter perfil para o lugar digam-lhe para enviar o CV e carta de apresentação para o seguinte endereço da Vauco:
A Vauco é uma empresa pertencente ao Grupo Teixeira Duarte e está situada no centro de Luanda.
Obrigado pela divulgação.
Contactos e informações:
José Carlos Costa (http://www.outeiroseco.webege.com/)
Gonçalo Félix (http://graficadotamega.com/)
Contactos e informações:
José Carlos Costa (http://www.outeiroseco.webege.com/)
Gonçalo Félix (http://graficadotamega.com/)
castelo de monforte de rio livre
Águas Frias - Rio Livre - Tino
Rêverie Art - Fernando Ribeiro
Sítio das Ideias-Lamartine Dias
Andarilho de Andanhos-S. Silva
Asociación Cultural Os Tres Reinos
Amnistia Internacional - Chaves
Amnistia Internacional - Blogue
DIGIWOWO - Artigos Fotográficos
RuinArte - Gastão de Brito e Silva