PROCISSÃO DAS LADAINHAS
Tradições desaparecidas
Noutros tempos em Outeiro Seco, realizava-se a secular Procissão das Ladainhas, pois já não há memória da sua realização na aldeia.
Há uns bons anos tivemos acesso a um documento (que aqui vou transcrever), e que prova que esta Procissão se realizava na aldeia, na última semana de Abril, ou nas duas primeiras de Maio. Sabemos que a sua origem é pagã, desconhecemos o seu início na aldeia, não conhecemos a forma como era realizada.
Ofício das Almas de 1896
Pertence a uma colecção particular de objectos litúrgicos
No ano de 1973, tentamos saber algo sobre esta procissão, mas as pessoas de mais idade da aldeia já nada sabiam. Apenas nos falaram de outros casos, a excomunhão da praga de morrões pretos que assolaram as culturas da aldeia, nos anos 20. Também nos falaram da mudança da Sr. Senhora da Azinheira, para chover ou parar de chover, assim como da praga das cigarras nos anos 50.
Voltamos à Procissão das Ladainhas, o pouco que nessa altura conseguimos, deixou-nos muito contentes, porque ficamos a saber que até ao ano de 1911, ela se realizou. Eram três dias, e segundo consta o povo deslocava-se pelos campos pedindo aos Santos protecção para as culturas, e colheitas em abundância, e para afastar as pragas e as trovoadas.
Pão a desenfarnar - Foto de 13/05/2012
Qual era o seu percurso, não sabemos, sabemos que durante esse percurso se pedia aos Santos essa protecção, e era acompanhada pelo Padre da Freguesia.
Para que os Outeiro-secanos não tenham dúvidas, no que escrevemos, e não façam maus juízos dos nossos textos vamos aqui fazer a transcrição do documento em causa:
“Serviço da República
Husando das faculdades que a lei me confere no que toca à licença para poderem realizar a
Procissão das Ladainhas nos dias 13, 14, 15, do corrente na freguesia de Outeiro Secco, d"este Concelho.
Saude e Fraternidade
Chaves 12 de Maio de 1911
O Adm.
!!!!!!!!!!!
Ao cidadão presidente da Junta de Parochia de Outeiro Secco”
Ladainha de Nossa Senhora - Páginas 64 a 73
Ofício das Almas de 1896
Pertence a uma colecção particular de objectos litúrgicos
João Jacinto
Muito interessante esta informação disponibilizada pelo amigo João Jacinto, até dá ideia que tem acesso ao acervo de um padre que, serviu a nossa paróquia, entre os anos de 1911 a 1914.
Pena que essa informação não seja pública, é isso que faz a diferença em personalidades como Adriano Moreira, que ainda em vida e com basta família, legou o seu acervo à cidade de Bragança, pese embora ele seja natural de Vimioso, mas está certo que o acervo será mais valioso em Bragança.
Quanto à informação que se perdeu, já por mais de uma vez lamentei o facto da geração que nos antecedeu, nomeadamente os da década de trinta e quarenta, muitos deles já com formação, não se tivessem interessado pela recolha dessas tradições. Tanto quanto se sabe, dessa altura ficaram apenas os cascos do Ramo e do Acto, coisa pouca para tantos costumes e tradições que vinham do século passado. Infelizmente este ostracismo foi geral, e foi graças a estrangeiros como Giacometi que, muitas das coisas antigas, chegaram aos nossos dias.
Nuno Santos
Bom dia Nuno,
Oxalá que o Sr. João Jacinto tenha o acervo de muitos padres, pelo menos ele tem estado a divulgá-lo à nossa Aldeia, embora com pouco interesse e participação por parte dos visitantes.
Quanto à informação, sabes tão bem como nós que aquela que está nas mãos do Estado, pouca é aquela que é pública e desta, uma não interessa a ninguém e a remanescente , dá trabalho, leva tempo e custa dinheiro a conseguir.
Os privados que têm alguma informação, das duas uma, ou lhes caiu do céu, aproveitando-se do trabalho dos outros ou, passaram pelo "calvário" de despender tempo, trabalho e dinheiro.
Estou certo que este último não seja problema do Adriano Moreira e não tenho dúvidas que essas doações de acervo tenham alguma contrapartida por trás, ainda que não venha a público. Quanto mais não seja a recuperação, tratamento e manutenção dos acervos que hoje é o maior problema dos seus proprietários e dos "coleccionadores" privados.
Dizer que isso distingue o Adriano Moreira como personalidade, pessoalmente acho-o um pouco extremo. Seria o mesmo que te dizerem a ti ou a mim para doarmos o pouco ou muito acervo que temos (o que não o tornaria público, note-se) para nos considerarem como "personalidades". ~
O Sr. João Jacinto tem sido uma "personalidade", transmitindo o seu conhecimento e disponibilizando as informações que detém , quer através de comentários, quer através dos contributos que tem feito. Que as pessoas se interessem ou não, já fica na vontade de cada um.
Em relação à perda de informação, tens razão, é pena, mas não nos esqueçamos que salvo raras pessoas mais privilegiadas como (ficando-nos por mais perto) o Liberal Sampaio, o Luís Chaves, o José Leite de Vasconcelos ou o recém falecido Montalvão Machado (etc...), os restantes estavam mais preocupados no trabalho para manter as suas famílias.
O tempo não se media como hoje, antes era de sol-a-sol , agora...bem, depende dos relógios. Também naquela altura os tempos eram austeros, as guerras (participadas ou não), os problemas internos do país, a ditadura, etc...
Por fim, quero apenas deixar uma nota que demonstra bem que a diferença de desleixo em relação às gerações anteriores, em relação a assuntos culturais e de património, não é assim tão grande. Basta ver a importância que os nossos representantes locais dão a aspectos culturais e patrimonial na nossa Aldeia.
Foram destruídas sepulturas, estão a ser cobertas por lixo a última e lagaretas cavadas na rocha. O Solar dos Montalvões chegou ao estado em que está, a Capela de Santa Rita, idem aspas e poderíamos continuar por aí fora. Se as pessoas vêm aquilo que é feito com o nosso dinheiro nas mãos desses "indivíduos", porque haverão de se importar com o restante.
Um abraço e obrigado pelo teu comentário,
Berto
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