“A/GOSTO de CHAVES”
Chaves, 16 de Agosto de 2013.
Pelo Brunheiro abaixo desce um leve sopro de ar que, depois de atravessar o Tâmega, percorre as ruas da cidade que nascem na sua margem direita, e faz-nos a todos dizer, em complemento do «Bom-dia!», que hoje a manhã está fresca.
Depois, a partir das dez e meia, o calor dos «três meses de inferno» toma conta das ruas, das rotundas, das avenidas, e das canelhas da cidade.
As labaredas consomem os montes, os restolhos e a paciência de quem as combate a sério.
Neste meio da manhã já não havia buraco onde arrumar o carro.
A Rua de santo Amaro estava cheia de automóveis e de pessoas.
A esplanada e as salas da “Carbela”, repletas.
Abusando da proverbial tolerância dos flavienses, deixei o pópó sobre um passeio de um acesso às garagens de um prédio.
O pingo não estava ao nível da minha habitual exigência. Mas o “Pastel de Chaves” até parecia ter sido feito de encomenda, e na hora, para o meu paladar e apetite!
Que bem me soube!
Desci a Rua Direita. Para meu espanto, não andavam por lá mais de vinte pessoas!
No Arrabalde, quatro basbaques!
Nas Lojas, ao todo, uma meia dúzia de clientes!
A cidade está mesmo pobre - disse para comigo mesmo!
Subi a Rua de Santo António.
Mais movimentada. Mas o movimento maior era o de automóveis.
Até o “Sport” tinha mais vagas do que ocupações!
No “Jardim do Bacalhau” estava espalhada uma dúzia daqueles parzinhos crónicos nas alcovitices - percebeu-se pelo olhar furtivo de esguelha e pelo acento enfático que punham em cada sílaba viperina das palavras venenosas.
Pela Ponte Romana iam e vinham pequenos grupos palradores, de familiares ou de amigos, que me deliciaram com um Francês com sotaque transmontano! Claro que os «avecs» e os «doncs» soavam mais alto do que o «omessa porra». Era preciso dar sinal de ricas «vacanças»!
As famílias galegas encontrei-as por todo o lado. Passeiam por Chaves como verdadeiros conquistadores. Mostram-se seguras do seu poder de compra!
Nos Cafés, os homens falam e orientam as orelhas para os amigos sentados de um lado e de outro da mesas, e trocam os olhos e torcem o pescoço para quem passa na rua, com aquele ar meio ansioso, meio embasbacado, como se esperassem alguém que os libertasse daquele torpor em que vivem, ditado ela rotina de vida e pela imbecilidade.
As mulheres mais novas e as mulheres mais velhas fazem técnico-tácticos esforços corporais para nos convencer, a nós, e se convencerem a elas de uma grandeza de fascínio e de atracção que exercem sobre os homens.
As mulheres idosas passeiam devagar - transportam consigo cargas de resignado sofrimento e de muita bondade.
Os homens de Aldeia, lavradores (ou agricultores) caminham com o passo lento, acertado, como quem sabe ao certo o que procura e aonde vai depois das compras feitas ou de cumprida a palavra: botar um copo antes do regresso a casa!
Os jovens amadurecidos e os maduros ainda jovens falam e gesticulam com entusiasmo e, com um ar de pimpão e fanfarrão, olham para quem se cruze com eles, por levarem à mão de semear uma companheira - esposa ou namorada - a quem podem abraçar e apertar como quem segura uma gabela de couves … ou de palha para estrumar a corte dos recos!
As crianças imitam os jovens pais, falando alto, apontando para as montras e esforçando-se para que os tios, os padrinhos e os avós olhem para elas, os ouçam, lhes «liguem»!
Regresso à Pastelaria para matar o desejo de mais um “Pastel de Chaves”. E dou-me conta de que afinal só eu é que ando por aqui sozinho!
A alegria de viver e a felicidade sentem-se espalhadas pelo ar!
Chaves, 16 de Agosto de 2013
Luís Fernandes
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