Outeiro Seco - AQI...

Tempo Outeiro Seco
Quarta-feira, 13 de Novembro de 2013

Contributos - Sr. João Jacinto - "Um prato de milhos"

 

 

 

UM PRATO DE MILHOS

 

Falar de milhos nos momentos actuais, será o mesmo que falar de um prato tradicional transmontano, desconhecendo-se por vezes a sua história, ou o seu passado não muito distante.

 

São muitas as pessoas que por estas alturas procuram restaurantes que sirvam um bom prato de milhos, pois actualmente são compostos de outras iguarias.

 

 

Recuando no tempo, Outeiro Seco não escapava ao consumo de milhos por parte da sua população. Eram tempos difíceis, e ao falar num prato de milhos, logo respondiam alguns populares: “Prato de Miséria”. Era assim que naqueles tempos eram denominados os milhos.

 

Eram tempos de guerra, tempos em que a maior parte das culturas se perdiam, cultivando-se algum milho por este ser resistente a vários factores adversos. Hora sucede que por esta altura na aldeia já se começavam a comer os tão falados milhos, as famílias eram numerosas, muitas bocas para alimentar.

 

Como por esta altura havia em abundância a couve de penca, juntava-se no pote dos milhos os talos (trochos) da couve. Era uma das formas de confeccionar os tão afamados milhos.

 

 

Outras famílias com menos possibilidades, confeccionavam só os milhos deixando-os mais soltos, como se dizia na aldeia mais "augados", comiam-se ao almoço e jantar (ceia). Quando os milhos eram mais soltos eram comum em casa dizer-se: "Vamos caiar a parede". Pela altura da matança, os milhos melhoravam um bocado, pois com a matança do porco, já se lhe juntava carne.

 

Nesses tempos de carestia, houve uma família em Outeiro Seco, que consumiu 14 alqueires de milhos, era uma família numerosa, acabando o chefe de família por ser conhecido na aldeia pela alcunha de o “Catorze”.

 

Com a guerra civil de Espanha, o seu consumo aumentou na aldeia, e nessa época era necessário manifestar toda a produção, passando a haver falta de milhos. Era necessário ir ao Grémio de Chaves fazer a compra. Sucede que esses milhos sabiam ao bolor. Se as pessoas já não gostavam dos milhos, com este sabor passaram a gostar menos, mas não havia alternativa, ou se comiam ou a barriguinha andava vazia.

 

 

Terminada a guerra civil de Espanha, reina neste pais também a miséria, o que leva muitos galegos da vizinha aldeia de Feces de Abajo a vir vender peixe pelas aldeias portuguesas. Alguns destes galegos vinham por Outeiro Seco. Ora o peixe que vendiam era o charelo, conhecido entre nós por chicharro, era abundante na época e barato, servindo para acompanhar os milhos.

 

Há nesta altura uma pequena conversa entre o vendedor de peixe (galego) e uma mulher de Outeiro Seco, "Xabana quita-me um quilo de peixe! Se no lo quires tu que-lo outro".

 

Muitas das pessoas da aldeia nem querem ouvir falar de milhos, lembram-se dos tempos de miséria. Hoje os milhos que se comem nos restaurantes, são milhos doces e os daqueles tempos eram milhos com sabor amargo.

 

João Jacinto

 

Publicado por Humberto Ferreira às 00:05

Link do post | Comentar | Adicionar aos favoritos
2 comentários:
De Luís Henrique Fernandes a 13 de Novembro de 2013 às 10:30
Mais uma deliciosa oferenda do «sr. João Jacinto».

Talvez porque não precise sair de casa para se consolar com os «milhos», não fez referência à «vigarice» que, estando os «milhos» ora na moda como petisco, algumas «Tasquinhas» e Restaurantes praticam em «Festivais gastronómicos».

Mas que, verdadeiros e cozinhados por quem sabe, com os trochos de couve (da NOSSA TERRA) e umas costelinhas de Reco acompanhadas com...e rematados com uma pinga (pode ser de Outeiro Seco!), são uma «coisa boa», ai, lá disso não haja dúvida!

Saudações flavienses


Luís Henrique Fernandes
De Nuno Santos a 13 de Novembro de 2013 às 10:46
Confesso que nunca fui fã dos milhos, e felizmente em nossa casa conta-se pelos dedos de uma mão, as vezes que os comi. Creio que quando isso aconteceu foi para matar desejos ao meu avô.
Contudo já os comi no restaurante Aprígio, e apesar de serem diferentes dos que o João Jacinto, relata na sua crónica, continuo a não ser um grande apreciador, ainda venham acompanhados dos ossos de assuâ, isso sim eu aprecio.
Um abraço,

Comentar post

Humberto Ferreira . Berto Alferes

Pesquisar neste blog

 

Dezembro 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

Votos de um Feliz Natal e...

Festa de São Miguel 2024 ...

Nuno Afonso dos Santos - ...

Festa de Nossa Senhora da...

10 anos...

Outros Olhares - Vítor Af...

Sessão pública de apresen...

Consignação IRS - AMA Out...

Auto da Paixão de Cristo ...

Votos de um Feliz Natal e...

Festa de São Miguel 2023 ...

Festa de Nossa Senhora da...

Pôr-do-sol no Outeiro 202...

Apresentação do Livro “Di...

Boa Páscoa!

Padre Fontes - 83º Aniver...

Águas Frias - Nevada de 2...

Águas Frias - Nevada de 2...

Águas Frias - Nevada de 2...

Águas Frias - Nevada de 2...

Águas Frias - Nevada de 2...

Padre Fontes | Diários (1...

Votos de um Feliz Natal e...

Festa de São Miguel 2022 ...

Festa de Nossa Senhora da...

Festa do Reco 2022 - Oute...

Boa Páscoa!

Auto da Paixão de Cristo ...

Padre Fontes - Apresentaç...

Outeiro Seco - Resultados...

Arquivos

Dezembro 2024

Setembro 2024

Agosto 2024

Julho 2024

Maio 2024

Abril 2024

Março 2024

Dezembro 2023

Setembro 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Dezembro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Abril 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Setembro 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

tags

agricultura

águas de chaves

águas frias

aldeias

ama

ambiente

amiar

antigamente

antónio lourenço fontes

ao acaso

aqi

aquanatur

aquavalor

arte digital

auto da paixão

barroso

berto alferes

boticas

camera collector

casa de cultura

castelo de monforte de rio livre

cerdeira

chaves

chaves em festa

chegada do comboio a chaves

cidade de chaves

cogumelos

coleccionismo

comboios

contributos

desporto

dinis ponteira

esgotos

estrada nacional 2

exposições

fauna

faustino

feira do gado

feira dos santos

fernando ribeiro

festa comunitária

festa de são miguel

festa do reco

festa senhora da azinheira

flora

fotografia

fotografia antiga

friães

galiza

humberto ferreira

j.b.césar

joão jacinto

joão madureira

lamartinedias

laura freire

legislação

lixo

lumbudus

máquinas fotográficas antigas

montalegre

museu de fotografia

n2

natureza

notícias

o poema infinito

old cameras

olhares

orçamento participativo

orçamento participativo 2015

outeiro seco

padre fontes

páscoa

património

políticos

poluição

poluição em chaves

portugal

rapa das bestas

recortes

religião

rio tâmega

romeiro de alcácer

rota termal e da água

santarém

são sebastião

sr. luís fernandes

sr.joãojacinto

suas cabras

telhado

termas de chaves

tiago ferreira

tradições

trás-os-montes

vamos até

viagens no tempo

vidago

vidago palace hotel

vintage cameras

visit chaves

vítor afonso

todas as tags

Blogues Amigos




Creative Commons License

AVISO:
A cópia ou utilização das fotografias e textos aqui publicados são expressamente proibidas, independentemente do fim a que se destinam.
Berto Alferes

Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License

Lumbudus

Tradições

Património

Coleccionismo

Fauna

Flora

Aviso




Creative Commons License

AVISO:
A cópia ou utilização das fotografias e textos aqui publicados são expressamente proibidas, independentemente do fim a que se destinam.
Berto Alferes

Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.

subscrever feeds