CRUZES NAS OMBREIRAS DAS PORTAS
O que mais contribui para que continue a escrever sobre o passado, ou tradições da aldeia que me viu nascer (Outeiro Seco), reside no facto de querer recuperar, tradições, factos sociais e históricos, quando os presumo perdidos na memória colectiva dos Outeiro Secanos. Não escrevo para obter o maior número de comentaristas, mas sim para dar a conhecer, aos mais jovens o passado e tradições de um povo (Outeiro Seco).
A apresentação de qualquer imagem será sempre acompanhada de uma informação ou esclarecimento, foi sempre um dos princípios que me norteou.
Com a devida vénia passo ao tema, que hoje me propus aqui desenvolver.
Talvez já muitos Outeiro Secanos, se tenham interrogado sobre a existência de umas cruzes, em algumas habitações antigas da aldeia.
Muitas vezes na minha infância me interroguei sobre as ditas cruzes. Qual o seu significado? Mas nunca obtive qualquer resposta dos mais idosos.
Eram várias casas com esses sinais na aldeia. Uma que ainda preserva esse sinal, é casa que pertencia ao José Chaves (Zé Rico). Na porta que dá acesso á cozinha, possui na ombreira da porta um símbolo que representa uma cruz.
Havia outra no Bairro do Papeiro. Muitas delas desapareceram devido à recuperação por parte dos seus donos, mas poderão existir mais na aldeia. Será sobre esta que ainda existe que aqui vou falar.
Segundo as informações que recebemos as cruzes gravadas nas ombreiras das portas ou janelas, foram ao que parece, casas onde viveram Judeus, e elas foram gravadas quando se converteram à religião católica.
Pelos vistos, e segundo o que dizem não tinham muita escolha, senão a conversão. E como acontecia nestes casos a conversão só era aparente, e então para não serem incomodados, e mostrarem que se tinham convertido, gravavam estas cruzes, isto acontecia por volta de 1557.
Por vezes olhares mais atentos podem ainda permitir identificar no casario mais antigo da aldeia, muitas destas marcas ou inscrições.
Não dispomos de dados concretos que nos permitam fazer uma associação directa, entre a existência dessas marcas (cruzes), e a presença de comunidades Judaicas na aldeia, mas estas características são geralmente verificadas nas antigas judiarias: mas para quem estiver interessado poderá percorrer os processos na Torre do Tombo, talvez encontre surpresas sobre Outeiro Seco. Como esta:
“Tribunal de Santo Oficio 1536
Inquisição de Lisboa
Processo de Pedro Leão
19/05/1554 - 27/03/1555
Tribunal de Santo Oficio, Inquisição de Lisboa Proc. 1220
Cristão-novo anos 50/Crime de Judaísmo - Actividade Vivia da sua fazenda e negociante de sedas.
Natural de Outeiro Seco termo de Chaves, Morada Vinhais diocese de Miranda. Pai Gabriel de Leão, Cristão-Novo
Mãe Genevora de Leão, cristã-nova
Casado com Inês Vaz, cristã- nova, Data da Prisão 1554
Sentença Abjuração de leve, carcere a arbítrio pagamento de custas
O réu veio de Vinhais e fora casado duas vezes sendo a primeira mulher Giomar Serrã e a segunda Violante Gomes, ambas cristãs-novas.”
E por hoje é tudo.
João Jacinto
castelo de monforte de rio livre
Águas Frias - Rio Livre - Tino
Rêverie Art - Fernando Ribeiro
Sítio das Ideias-Lamartine Dias
Andarilho de Andanhos-S. Silva
Asociación Cultural Os Tres Reinos
Amnistia Internacional - Chaves
Amnistia Internacional - Blogue
DIGIWOWO - Artigos Fotográficos
RuinArte - Gastão de Brito e Silva