COMBATENTES DA GRANDE GUERRA DE 1914-1918 DA ALDEIA DE OUTEIRO SECO
Os militares de Outeiro Seco que estiveram na 1ª. Grande Guerra, de 1914-1918, têm sido votados um pouco ao esquecimento.
Agora que se comemora o centenário deste acontecimento, aproveito esta oportunidade para publicar aquilo que ao longo de alguns anos consegui amealhar, quer através de investigação, quer através de conversas com algumas pessoas da aldeia, muitas delas já falecidas.
Tive o cuidado de lhes pedir para me falarem sobre os combatentes de Outeiro Seco. Tarefa nada fácil, por várias razões que aqui não interessam especificar. Julgo ser necessário preservar a memória da participação dos nossos antepassados na 1ª. Guerra Mundial, mas não foi pera doce.
A indicação das atuais referências têm um valor meramente indicativo, pois nem sempre a indicação da localidade foi rigorosa, o que nos leva muitas das vezes, a uma identificação não correta e nos induz em erro. Também muitas das vezes verifiquei erros nos boletins do CEP, a falta de boletins ou eventuais perdas dos mesmos.
Consultar listagens, ou milhares de boletins em arquivos que nos leva muitas das vezes a não ser possível realizar o trabalho de forma célere, e tanto quanto possível rigoroso e correto.
Mas mesmo assim, com todos estes constrangimentos, vou tentar fazer o possível para levar esta informação ao conhecimento dos mais jovens e até, de muitos familiares dos combatentes ou seja, “tirá-los do anonimato” e assim, dar-lhes o lugar que merecem na história de Outeiro Seco.
Alguns passaram pela guerra nas ex-colónias, seguindo depois para os campos de batalha em França. Pelo menos um dos combatentes de Outeiro Seco, ficou nos cemitérios de França, outros regressaram com várias mazelas no corpo. Ainda me recordo quando era miúdo, ouvir aos mais idosos a seguinte frase, “vieram gaseados da guerra”. A vida dura das trincheiras, onde não era fácil numa terra desconhecida, onde o frio a lama, a chuva, a neve, os gases e as balas, eram os companheiros do dia a dia.
Sobre alguns combatentes pouco temos a dizer, pois a sua ficha do CEP não foi encontrada e não foi possível a sua consulta, mas mesmo assim, vamos tentar fazer uma resenha de cada combatente. Muitas das vezes sentimos vontade de não realizar este trabalho, devido à falta de material e estivemos em vias de abandonar, face a tanta dificuldade. Mas de um momento para o outro, algo nos animou e hoje sinto-me feliz pela investigação realizada e em trazer aos outeiro secanos, uma parte da história dos nossos combatentes, os nossos heróis da batalha do 9 de Abril de 1918, “La Lys”.
Iniciamos este trabalho com o soldado: MANUEL DOS SANTOS
Relativamente a este combatente, tivemos grandes dificuldades na investigação, não foi possível a consulta da sua ficha, encontramos alguns combatentes com o mesmo nome e apelido. Consultamos as respetivas fichas, uma levou-nos até Tronco, outra até ao Couto de Ervededo, tudo errado, pois a indicação que tínhamos era que ele era soldado do Regimento de Infantaria 19. Procuramos em várias listagens e detetamos um Manuel dos Santos, de Chaves, mas incorporado pelo Regimento de Infantaria 30, mas para nosso azar não foi possível o acesso a essa ficha do CEP. Ficamos na dúvida, será ele? Não será? Mesmo assim continuamos a nossa pesquisa referente ao Manuel dos Santos.
Sabemos que ele foi mobilizado para a guerra e que partiu em 23 de Maio de 1917 para Brest e dali, para a frente de combate, onde lutou como um bravo transmontano, só regressando à sua terra em 1919. Por informação recolhida no livro Retrato Social de Outeiro Seco, da autoria do seu neto Nuno Santos, ficamos a saber que ele foi prisioneiro dos Alemães. Seguimos esta pista através de várias listagens de prisioneiros mas nada de nada se descobriu. Também através do mesmo livro o seu neto diz-nos que ele foi criado de João Júlio Alves.
Digitalização da capa do livro de Nuno Santos
Feitas as contas respetivas, fomos à procura da sua origem. Detetamos o seu registo de batismo, e que nos diz o seguinte:
ASSENTO Nº.181
“Que no dia cinco do mês de Setembro do ano de mil oitocentos e noventa e cinco na freguesia de Santa Maria Maior, da vila de Chaves, que foi batizado solenemente um indivíduo do sexo masculino, a quem dei o nome de Manuel, que nascera pelas nove horas da manhã do dia seis de Agosto, e era filho natural de Ana Eusébia, solteira, nascida e batizada na freguesia de Vreia de Bornes, concelho de Vila Pouca de Aguiar, e residente atualmente no Bairro das Caldas. Era neto materno de Casimiro Pinto e Maria Joaquina, e da parte paterna avós incógnitos. Foram seus padrinhos Francisco José e sua mulher Emília da Conceição, ambos residentes em Vidago.”
Baseados nesta informação fomos ao seu registo de casamento no ano de 1920, que diz o seguinte:
“No dia 11 de Novembro na igreja matriz de São Miguel de Outeiro Seco, com 25 anos de idade Manuel dos Santos, contraia matrimonio com Maria Joaquina Teixeira (há registos com Ferreira), de 20 anos de idade natural de Outeiro Seco, filha legítima de Augusto José e de Mafalda Teixeira. Foram testemunhas João Júlio Alves, e Beatriz Ferreira. Este tão nobre ato foi celebrado pelo: Padre Elias António José Alves.”
Deste enlace acabariam por dar vida aos seguintes rebentos: Ana (falecida), Beatriz (falecida), Augusto (falecido). António (falecido), José (ainda vivo), Alfredo (ainda vivo), Silvestre (falecido).
Habitava na sua casa junto da ponte da Ribeira da Torre na entrada sul do Bairro do Penedo, mas como as mazelas da guerra não dão tréguas, com a idade de 60 anos, falecia a 9 de Novembro de 1955, na sua casa do Penedo. Assim finalizava o percurso na sua terra adotiva, este herói da grande guerra.
João Jacinto
Consulta:
Arquivo Distrital
Arquivo do Exército
Vários blogs de genealogia
Informações orais
Livro de Nuno Santos, Retrato Social de Outeiro Seco no Século XX
Livro de Manuel H. Lourinho, Prisioneiros Portugueses na Alemanha
Pesquisa e texto remetidos pelo Sr. João Jacinto
Nota: Este é o contributo nº 50 do Sr. João Jacinto a este blogue.
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