“GIESTAS”
O século vinte chegava a meio.
Na NOSSA TERRA o Inverno era gelado.
O Outono, da Feira dos Santos.
O Verão, do S. Caetano e das sestas.
A Primavera, da Srª das Brotas e das promessas cumpridas na Srª da Saúde, de S. Pedro de Agostém; da chegada das andorinhas, do verdejar dos campos e do florir das árvores e das plantas.
O “CAMPO” cobria-se de “merendeiras”, coradinhas e perfumadas.
Os “NETOS da GRANGINHA” tinham por onde brincar com graça e alegria.
No regresso da Escola (os irmãos Mário e Júlio, do João Carteiro, vindos da do Giestal, nas Casas-dos-Montes, e o Luís da Tia São, da de Santo Amaro), depois de se juntarem à entrada para o «’trei-ladrão”, atravessarem o Pedrete e espreitarem a ”Fonte da Moura”, os três “amadis de gaula” da GRANGINHA, subiam o monte do Picholeto. Alguns pinheiros e carvalhas pareciam querer marcar as fronteiras entre condados de giestas brancas, que mais se assemelhavam a castelos mouriscos onde se acolhiam coelhos bravios.
Sorrateiros, estes mosqueteiros da GRANGINHA aproximavam-se das «camas» e, assim que tal, mergulhavam olimpicamente sobre os felpudos láparos.
Às vezes, o coelho mais atento topava os três gandulitos. Dava uma patada forte no chão, espirrava sonoramente e formava um daqueles saltos de deixar qualquer um pasmado.
O susto de um alertava todos os outros.
E, então, era um estrelejar de saltos e correrias por entre as giestas, as carvalhas e os pinheiros até aos silvedos mais próximos da Fonte da Moura e às estratégicas tocas de todo o Pedrete!
O «Mono», das Casas-dos-Montes, empenhadamente a cuidar das suas sementeiras e plantações, arreliava-se sempre que o seu macho relinchava e se empinava com o susto pregado pelos coelhos que lhe roçavam as patas ou o focinho enquanto pastava na erva tenrinha regada pelo rigueiro que, descido do Cando, corria até ao Tâmega.
A Ester, do Cando, já moçoila e hoje mulher do Roulo, entretida na horta, ria-se das diabruras dos três amiguinhos.
Passado o Alto das Carvalhas, e logo no Alto do Cando, as giestas brancas tomavam conta do monte, como que abrindo alas para a «Lama» e o «Frei Janeiro».
Os três «caballeros brincallantes”, inocentes “don quijotes de la Grangiña”, abraçavam as flores das giestas e davam beijinhos nas pétalas julgando-as gotas de mel caídas dos lábios de uma Dulcineia.
Para desanuviar a preocupação da ‘Vó São e da mãe Teresa do João Carteiro, os três aventureiros arranjavam, às vezes, meia dúzia de galhos de giesta, atavam-nos, como calhava, com um improvisado “bencelho”, e aliviavam o ralhete oferecendo-os a uma e a outra como vassoura para se varrer as escadas ou o chão da lareira!
Mais tarde, nos amanheceres frescos ou ainda nos mornos fins de tarde do 3º Período do Liceu, o Luís da Tia São sentava-se no meio de um giestal, da Sobreira ou do Quinchoso, onde estudava as lições para os exames ou recitava poemas à sua amada.
E, com Florbela, suspirava:
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder …
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda …
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei …
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
M., 28 de Março de 2014
Luís Henrique Fernandes
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