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Sábado, 17 de Maio de 2014

Contributos - Sr. Luís Fernandes - “Parafanguice"

 

 

 

“Parafanguice”

 

 

Umas dores nas “cruzes” levaram-nos a um tratamento de Fisioterapia.

 

A sala da Clínica que escolhemos é ampla. Comporta bem uma dúzia de pacientes e os necessários equipamentos.

 

Pela maneira franca e aberta com que alguns conversam, quer entre si, quer com os fisioterapeutas, dá para entender o ambiente familiar e o sucesso das massagens, dos «piquinhos», dos exercícios e do «parafango».

 

Um «atleta», já mais avançado na idade do que nós, calhou na marquesa ao nosso lado direito.

 

Apanhou, estamos em crer, pedaços das nossas conversas ocasionais com os fisioterapeutas, e à saída, como início de contacto pessoal, disse: -

 

-“Eu também sou transmontano. E Flaviense”.

 

Cumprimentámo-lo com afecto e satisfação.

 

-“Ando há que tempos para ir à cidade, mas ainda não calhou” – acrescentou.

 

Este «ir à cidade» soou-nos mesmo à moda antiga da NOSSA TERRA. Lá na NOSSA ALDEIA, quando alguém tinha de tratar de algum assunto para lá da Fonte Nova dizia sempre aos vizinhos que tal dia ou tal hora «ia à cidade». E perguntava-lhes se queriam alguma coisa de .

 

O nosso companheiro de “parafanguices” tinha mesmo o ADN “flavínio”!

 

A ambulância de “Transportes de Doentes” esperava-o e nós apressámo-nos a prometer a continuação da conversa para o dia seguinte.

 

Assim aconteceu. Mas a conversa só se deu enquanto descíamos as escadas e a rampa de acesso à rua.

 

Pediu desculpa pelo atrevimento e o incómodo de nos tomar tempo.

 

- “Mas ontem, chegado a casa, não ganhei descanso enquanto não fiz estas duas letras que gostaria que lesse e, depois, pedisse ao seu amigo de um Blogue de CHAVES, de que ontem e outros dias tem referido, para fazer um poste, se é que não é abuso da nossa parte”.

 

-Não se acanhe. Farei como pretende. Depois dir-lhe-ei se o “post” foi feito.

 

-“Sabe, os caminhos da vida afastaram-me dos livros. Tenho andado mais chegado aos Jornais. A bola, o árbitro; o relvado, as quatro linhas; as cláusulas de rescisão, a altura, o peso, os índices de progressão do Jogador, e o nome da Academia onde se formou; o penalti, a goleada   -  agora já não se diz «uma abada»! … Ainda se lembra desta? …Uma vez o NOSSO DESPORTIVO levou uma abada do Braga de 13-0! E o nosso «keeper» foi o melhor em campo!

 

- Já vou! Já vou!  - respondeu para o bombeiro-condutor da carrinha de “Transportes de Doentes”

 

Notámos que os companheiros (e companheiras) de viagem estavam com pressa.

 

-Vá descansado. Havemos de ter tempo para uma longa conversa.

 

Chegámos a casa. Lemos o «bilhete». Demos volta «à cachimónia», a tentar apanhar alguma história ou alguma lenda dos tempos em que a Rua de Santo António se parecia com a “Piccadilly Circus”, e que nos tenha escapado.

 

Decidimo-nos por vir ao correio e mandar o bilhete ao autor de um Blogue de CHAVES.

 

Ei-lo:

 

(Ne varietur)

 

 

“””

 

“ Lembras-te, Trajano, daquele teu colega de Liceu, em Vila Real, para onde foste fazer o 6º e o 7º que te habilitariam à Universidade?

 

Não eras muito forte em Latim. Mas aquele teu conterrâneo, embora no 2º Ciclo de então, deu-te jeito nas lições do «Sum, es, esse, fui».

 

Sentavas-te com ele num dos bancos da Avenida Carvalho Araújo, aprendias melhor as declinações e os supinos. E lá ias todo contente, gabando as ajudas do teu amigo «arcipreste».

 

Tu seguiste para Coimbra.

 

Ele foi para Chaves. Dali partiu recrutado para um bacharelato em tácticas da Grande Guerra, que de pouco ou nada lhe valeram para a licenciatura em Guerrilha.

 

Na Bacia do Congo, na Baixa de Cassange, na Volta do Songo, nos Morros de Nambo ou nas Grutas de Bessa, experimentou a aritmética da traição, a geometria da imposturice, as equações da covardia, o grego da hipocrisia, o latim da falsidade, a história da mentira, a geografia das emboscadas, a química do medo, a anatomia da injustiça.

 

As soluções que encontrou estavam todas suspensas.

 

Amou o próximo.

 

Esqueceu-se de se amar a si mesmo.

 

Os anos passam. A auto-suficiência e a independência fazem, a muita gente, esquecer as ajudas, as palmadas de ânimo, as bóias de salvação, os empréstimos e os salvo-condutos que ajudaram à fortuna, ao sucesso, ao bem-estar, ou à conquista de boas parcelas de felicidade.

 

Alguém disse que «a ingratidão é o salário da vida».

 

Sabes, meu caro, o principal lema que adoptei para a vida que possa cumprir foi:

 

 – “Chama-me tudo, menos ingrato!”

 

Deixa-me que te lembre um outro:

 

-“Antes quero ter um bom nome do que ruim posse!”

 

Já agora, vou lembrar-te outro ainda, comum na NOSSA TERRA:

 

-“O DEVER é uma honra; o PAGAR é um brio!».

 

Claro, claro, quem tem tantos ideais é um idiota!

 

Pois seja!

 

Mas, sabes, subo e desço a Rua de Santo António, de Chaves, do Porto, de Olhão, da Guarda ou do ‘Rais que Parta’, de cabeça levantada, e olho toda a gente de frente, olhos nos olhos, sem pestanejar!

 

Quando vou a Chaves (e já há tanto tempo que aí falto!), alguns dos sexagenários e septuagenários que por aí ainda medram fazem há-de conta que não se lembram de mim.

 

Fazem eles muito bem. É que se me reconhecessem vinha-lhes a bílis à boca!

 

A cena que eu e eles protagonizámos com o Professor de Geografia no 5º Ano, lá no tal cortelho da Freiras; e a da aula de Físico-Química, no 7º Ano, naquela sala com vista para a Rua de Santo António, por causa do Salgado; ou a da rebeldia contra a travestida «ALA dos NAMORADOS» talvez lhes provoque uma aziazinha pela diferença entre o seu «ruminanço» “valenteiro e corajoseiro” fora de portas do Liceu e o «peito feito» de quem «até nem tinha razão de queixa» mas foi solidário!

 

Engraçado (sem ter graça nenhuma)!

 

Já reparaste que a maioria desses «merdas» acabou em Secretários de Estado, Directores-Gerais, poetas e escritores premiados, comendadores no 10 de Junho, deputados “filhos-da-puta“ no Parlamento ou nas Assembleias Municipais, vereadores e presidentes de Câmara e de Misericórdias, adidos no Zimbabué ou no Arquipélago de TONGA?!

 

Claro, clarinho, que no 26 de Abril de qualquer ano após 1974 todos ficaram ou nasceram com genes revolucionários, democráticos, anti-”faxistas”.

 

E só tu e eu, e mais alguns poucos, é que não entendemos o grande sacrifício, os actos de supremo egoísmo, (porra! é heroísmo que devemos escrever?!”) que esses «bandalhos» tiveram de cometer para nos levar a este «falso» estado de miséria e degradação nacionais, que é, nem mais nem menos, o frontispício de «janelas de oportunidades» que eles, os teus e meus ex-colegas, ex-amigos, ex-companheiros de armas, ou pós-qualquer coisa do que tu e eu tenhamos dito e feito, nos proporcionam para, amanhã, logo de manhã de um dia que nascerá daqui a mil anos, tu, eu e o «Zé Pagode» desfrutemos de uma vida regalada «à grande e a francesa»!

 

Para me despedir, deixa-me lembrar-te apenas duas grandes «visões» de um cacique local e de um refinado cretino nacional, por exemplo, para a Cultura e para a Saúde, respectivamente:

 

- Para o excomungado Presidente da Câmara da NOSSA TERRA a pedra de toque da Cultura está chapadinha e omnipresente nas “Concertinas dos Rapazes da Venda Nova”;

 

- Para o enjoado-bilioso maçónico, macaqueiro imitador de RUDOLPH HESS, a SAÚDE é imposta por decreto, sustentada com o aumento dos preços de medicamentos e tratamentos, e a «sã e risonha» longevidade certificada até aos 100 anos com  o “estreitamento” do  acesso aos Serviços de Tratamento de Doenças, especialmente passando para metade as possibilidades de transplantes de órgãos!

 

Claro, clarinho, que se «o gaijo» tiver uma unha encravada vai em jacto “particular-oficial” imediatamente a Londres, não, a Boston   -   que não dá tanto nas vistas!

 

Se o Purgatório é «uma invenção da padralhada para obter lucros com ele», o Inferno de vida dos Portugueses é a mina de ouro e de diamantes deste Governo.

 

Metade dos que nos têm governado comeu-nos a carne; a outra metade tem andado a comer-nos os ossos.

 

Estamos sepultados num “plácido sepulcro rodeado de esperança”.

 

Pois é, meu caro Trajano. Há que anos não te vejo. Mas gostava que estivesses com a mesma saúde e alegria com que nos víamos lá no “Camilo Castelo Branco”, ou no dia em que o “Delgado” pôs uma coroa de flores no “Carvalho Araújo” e discursou da varanda do “Tocaio”, lembras-te?!

 

Eu é que não me esqueci de ti.

 

E estimo-te (ab imo).

 

…. E CHAVES ainda está no mesmo sítio?”

 

Dever cumprido!

 

 

 

 

Luís Henrique Fernandes

 

 

Publicado por Humberto Ferreira às 00:05

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1 comentário:
De riolivre a 17 de Maio de 2014 às 19:26
Que poderei dizer, meu caro amigo Luís Fernandes, depois de me deleitar com a leitura do seu (como sempre) excelente texto?
Só posso mesmo repeti-lo: DEVER CUMPRIDO.
Um grande abraço.
Celestino

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